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  • Foto do escritorJornal Poiésis

UM CAFEZINHO

Atualizado: 16 de jun. de 2021


Braz Chediak Às vezes sou tomado por uma grande e inexplicável inquietação. Alegria, tristeza, raiva, ternura, aparecem e desaparecem como se brincassem comigo de esconde-esconde. Henry Miller diz que “Todo homem, quando se aquieta, quando se torna desesperadamente honesto consigo mesmo, é capaz de pronunciar verdades profundas... Somos todos parte da criação, todos reais, todos poetas, todos músicos: só nos falta desabrochar, apenas descobrir o que existe em nós." Somos parte da criação, Somos a própria criação. E como criatura e criação, me cansei das confusões, do caos em que nos meteram, das invenções milionárias, das fascinantes máquinas que modificam o mundo. Sei que nosso pequeno planeta passeia nas galáxias e que passeamos com ele. Isto é fantástico, mas o que me fascina é uma gota de orvalho numa folha qualquer, é o canto de um pássaro, uma xícara de café... “Somos feitos da mesma matéria da qual são feito os sonhos”, nos ensinou Shakespeare, e , principalmente agora, nessa época de espanto, dor e solidão, meus sonhos são de encontros, de suavidade no estar sozinho, de leveza. Interrompo a crônica, sinto o barulho da água fervendo na chaleira. Os especialistas dizem que para preservar o sabor do café não podemos deixar a água ferver, mas não sou especialista. Sou um homem comum, de gostos comuns. Vou até a cozinha e faço meu café. É um simples café, mas me alegro. E enquanto bebo, observo a mesa, a pia, o filtro... e me indago: como coisas tão corriqueiras podem nos livrar de inquietações? Como a delicadeza de uma xícara barata, pode nos fazer voltar à terra? Voltar ao cotidiano que, daqui a pouco, tomará conta da rua, do bairro, da cidade, da vida... Amanhece. Ouço o primeiro galo cantando distante e tenho vontade de sair, mas está frio. Fico com meus possíveis leitores. E um gostoso cafezinho. Estou bem acompanhado!

Braz Chediak (Três Corações-MG, 1942) é escritor, cineasta e roteirista. No cinema, dirigiu “A navalha na carne”, “Bonitinha mas ordinária”, “Perdoa-me por me traíres”, entre outros.

https://www.facebook.com/braz.chediak


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