Jornal Poiésis
Um atropelamento metafórico

Flávia Joss
Nunca fui atropelada, mas conheço algumas pessoas que, infelizmente, já tiveram o desprazer em sofrer um acidente desse tipo. No dia nove de setembro passei por uma cirurgia cujo pós-operatório é bem complicado. Fiquei um pouco ausente das redes sociais por forças das circunstâncias e como recebia diversas mensagens de amigos querendo saber como eu estava, resolvi fazer um story no Instagram para tranquilizá-los: “Oi, gente, passando aqui pra falar do meu processo evolutivo em relação à cirurgia. Nos primeiros dias parecia que tinha sido atropelada por um trator, um caminhão ou algo do tipo. Hoje, sinto-me atropelada por uma bicicleta. Acredito que nos próximos dias irei me sentir como se tivesse sido atropelada por um velotrol... como vocês podem observar, melhorando a cada dia (risos).”
Foram muitos os comentários e gracejos sobre a postagem, acharam engraçada, leve, divertida. Alguns não sabiam do procedimento, fizeram perguntas e deixaram mensagens carinhosas desejando uma boa recuperação.
De repente me deparei com a seguinte pergunta: Atropelada em que sentido? Tive vontade de rir e pensei “não acredito que terei que explicar...” Foi então que percebi como algumas pessoas têm problemas com as metáforas, e olha que usei uma bem banal. Intimamente, me perguntava se a linguagem figurada anda fora de moda... Lembrei-me de uma aula que ministrei para turmas de primeiro ano do ensino médio sobre denotação e conotação. Levei para a sala alguns provérbios e observei que meus alunos desconheciam a maioria deles e quando conheciam, não conseguiam interpretá-los. Acho triste viver tão realisticamente... Não tive escapatória, sai da minha elucubração e expliquei o óbvio.
Flávia Joss é Professora de Língua Portuguesa e Literatura, especialista em Gêneros textuais e Interação. Possui cursos de aperfeiçoamento nas áreas de Arte& Espiritualidade, Escrita Criativa e Poesia Falada.