Tô correndo atrás da poesia (Poesia)
Atualizado: 8 de jun. de 2020
Tô correndo atrás da poesia
E quanto mais eu corro mais longe de mim ela fica.
Quanto mais impaciente e indignado eu fico para escrever
Quanto mais ansioso eu fico para tocar nela...
Minha onipotência se desvanece!
Senhor das letras, das palavras,
Senhor do nada, do acaso,
Olhando a vida passar pela janela.
Apenas servido do colapso que me deveras ...
Do colapso que habito
Quando apenas finjo não ver
E tento escrever.
Se longe do estéril turbilhão da rua Beneditino escreve
No aconchego do Claustro como diria Olavo Bilac.
Se diante do espanto a poesia nasce
Como diria Ferreira Gullard.
Se estamos falando da uma iluminação Zureta
Como diria Elisa Lucinda em a fúria da Beleza.
Eu que moro no apart em home office
A makita do síndico gritando estridente em fole.
E quem dera fosse em Ipanema
Eu tentando escrever que seja para abafar a ansiedade dos dias de quarentena.
Morrendo de dor de cabeça
continuo correndo atrás da poesia.
Não tão fiel à inspiração romântica do poeta ideal,
que é tomado em forma de dança pelo belo ao ver uma árvore nua.
Nem muito leal a disciplina do poeta parnaso
Que Trabalha, e teima, e lima, e sofre, e sua!
Desrespeitando a orientação do Ministro da saúde
Às vezes eu vou para rua…
Vou pra rua
E trago na garupa
Uma pétala, o canto de um pássaro
Um olhar que me deixou embaraçado.
Uma corrente que solta
Uma graxa na mão
A menina bonita por quem eu tive um breve tesão
Que ao passar me chamou de trouxa.
O pão doce da padaria
E quando fui notar já tinha é chegado a fome do meio dia.
E assim eu sigo correndo atrás da poesia
Nem correndo muito à frente,
Nem andando atrás muito devagar,
Do lado porque se ela cair eu consigo ajudá-la a levantar.
E se ela aceitar minha ajuda.
Quem sabe levá-la para casa?
Uma busca diária.
Matheus Fernando é aluno de graduação em Psicologia na Universidade Federal Fluminense. É escritor que transita entre gêneros literários como poesia, crônica, conto, ensaio e peça
matheusfernando.contato@gmail.com