- jornalpoiesis
Selváticas

Rosa Ataíde
mulheres
são por essência selvagens
e pintam as unhas
pois estas lhes servem de garras.
as garras afiadas das que nutrem
ao seio,
pelo cordão umbilical
com o sangue nutritivo que semeiam pela terra mês a mês...
nossos filhos inatos.
ouçam os tiros...
são milhares os disparos!
eles estão a estilhaçar os corações delas.
silêncio quando morre uma delas,
silêncio nas matas, nas cidades.
até às anciãs se calam
e choram as mulheres nutridoras de Gaia.
chorem por nós...,
os infiéis
os estupradores,
os marginais fardados,
os algozes aliançados .
pois morremos após
nos silenciarem
em suas fogueiras
e com suas facas
perfurarem nossas carnes.
não aos punhos fechados!
não aos queixos trincados!
selvagens,
bicho, mulher,
selváticas!
do colo de nossos úteros
preparamos cama à humanidade.
são nossos os corpos
que de nós foram tomados pela estigma do sexo frágil.
por instinto...
somos medicinais,
cura e nascimento,
eis então que somos fortes!
selváticas!
nos refazemos às adversidades
como a mata que rompe o concreto,
vem dessa essência de bicho
a gana que nos tira o eixo
quando lascamos uma unha.
...mas esperem, elas crescem!
ou as substituímos por postiças adornadas.
Rosa Ataíde é poeta, ilustradora, fotógrafa.
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