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Retorno da territorialidade através da bacia hidrográfica

Francisco Pontes de Miranda Ferreira
A natureza absorve as atividades humanas e recentemente vem absorvendo os resultados de uma sociedade industrial. Assim a natureza coloca os resíduos da produção industrial em seu ciclo, provocando enormes impactos. A relação natureza-indústria condiciona hoje a própria sociedade, através de várias esferas como produção, distribuição e consumo. Acontece que a empreitada industrial-urbana criou seus próprios limites e a sua própria destruição e isto está visível quando analisamos o território de uma bacia hidrográfica fortemente impactada pela industrialização. A unidade primitiva da produção é o território. Trata-se do suporte onde inscreve-se todo o processo de produção, tanto da sociedade pré-industrial quanto da industrial. No território os objetos e os fenômenos humanos e não-humanos ocupam espaço e são simbolicamente registrados.
No território agentes e produtos se distribuem e se interrelacionam. Cria-se assim uma “máquina territorial” que cobre o campo social e os humanos funcionam como peças desta máquina social. Na sociedade capitalista, industrial e urbana o campo social e a máquina territorial são desmantelados e o corpo natural primitivo, tanto biológico dos seres vivos, quanto o das formas do território, são abandonados e esquecidos. Antes da criação do Estado havia uma “máquina primitiva” que não era territorial, mas possuía territorialidade. A noção de território surge com a criação dos estados que subdividiu povos e territórios. Ao contrário da “máquina primitiva” que dividia povos, mas sobre uma terra indivisível. A divisão incide sobre a própria terra através de uma organização administrativa e neste processo inicia-se a desterritorialização em que passa a valer a unidade do Estado e não a da natureza (DELEUZE e GATTARI, 2010).
A divisão territorial do Estado não é integrada à territorialidade e à natureza e, por isso, defendemos um retorno de uma unidade territorial que tenha mais consonância e relação direta com a natureza que seria a bacia hidrográfica. Uma espécie de volta aos valores da “máquina primitiva” em que sociedade-natureza voltam a formar um conjunto em que os elementos biológicos, geomorfológicos e climáticos são valorizados em interrelação com as ações antrópicas.
Referência
DELEUZE, G. e GATTARI, F. O Anti-Édipo. São Paulo: Editora 34, 2010.
Francisco Pontes de Miranda Ferreira é Jornalista (PUC Rio) e Geógrafo (UFRJ) com mestrado em Sociologia e Antropologia (UFRJ), pós graduação em História da Arte (PUC Rio), Doutorando no Programa de Pós-Graduação em Meio Ambiente da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, membro do conselho editorial do Jornal Poiésis.