Quem é você?

Matheus Fernando

Uma pergunta tenebrosa. Sempre que direcionada a mim, essa pergunta de alguma forma me causa calafrios. Vez por outra nem de forma tão direta assim, mas ao preencher um formulário, uma lista de inscrição para algum curso ou algo do tipo. Frequentemente ela aparece. Sim, você tem que responder, você tem que se definir de alguma forma. A sociedade não suporta conversar com você tateando no escuro sem dominar a possibilidade de te colocar dentro de alguma caixinha.

Não trago aqui questões de gênero, calma! Meus pensamentos de hoje são densos porém menos polêmicos.

Quando a pergunta é menos aberta e mais certeira se torna muito mais fácil. Algo como “Qual é a sua profissão?” ou “O que você gosta de fazer nas horas vagas?”

Agora, quando a pergunta é seca, nua e crua algo dentro de mim se reviravolta. O conceito de identidade ajuda na nomeação, na identificação, na rotulação. Contudo… somos tanta coisa. Somos pai, mãe, donos de casa, somos filhos, somos estudantes, somos seres pensantes - por mais que algumas pessoas se neguem a usar essa habilidade inata.

E nessa angústia de ter que dizer “sou isso” ou “sou aquilo” como num milésimo de vários segundos, dentre vários questionamentos, redações dissertativas argumentativas e ervas daninhas que brotam em minha cabeça, uma luz. Uma luz fraquinha como daquelas de vela quase acabando, fumaça já escurecida, final de pavio, duas possibilidades lá

l o n g e aparecem.

Se digo que sou isso, perco todas as inúmeras possibilidades de ser tantas outras coisas tão mais e ou tão legal do que essa. Todavia se não digo o que sou… não sou nada. E todas as coisas e pessoas legais que poderia eu ser - incluindo a pessoa identitária e um tanto mesquinha - jamais as serei. Morrerei antes de ter tido a possibilidade de ser. Algo ou alguém muito legal, algo ou alguém miserável como nós todos, identitários e um pouquinho chatos às vezes.

Até que alguém bate no meu ombro e diz:

- Ei, cara! Tô falando com você! Você é o Matheus,certo ?

- Sim, sou eu.

Nesse momento eu lembro de uma identidade que me precede e que não foi eu que a escolhi. Enfim, sempre saio dessa pergunta um tanto angustiado. Sem ter dito quem sou, seja lá o que isso for.

Matheus Fernando

matheusfernando.contato@gmail.com