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Que água devolvemos para o ambiente?

Atualizado: 30 de jan. de 2022



Francisco Pontes de Miranda Ferreira


A complexidade que envolve a qualidade da água e os sistemas de tratamento


Grande parte da água que utilizamos é retornada na forma de esgoto. O esgoto é composto em sua maior parte por matéria orgânica (mais de 90%). O objetivo de um sistema de esgotamento sanitário é devolver esta água de forma que não provoque poluição e doenças. A qualidade da água devolvida depende, portanto, das ações antrópicas e do tipo de uso do território. A interferência humana afeta a qualidade da água de forma concentrada e pontual como na geração de esgoto doméstico ou de resíduos industriais e na forma dispersa como na utilização de agrotóxicos no campo. A água depende dos fatores naturais do ciclo hidrológico: precipitação, escoamento superficial, evaporação e transpiração. No escoamento superficial os canais fluviais e outros corpos hídricos são formados. A água é retirada de suas condições naturais quando a utilizamos para o abastecimento doméstico, a indústria e a agropecuária. Alteramos o ciclo natural quando realizamos a captação, construímos estações de tratamento de água ou efluentes e criamos sistemas de distribuição ou esgotamento sanitário. A água finalmente atinge um corpo receptor e a qualidade em que é retornada é um dos nossos principais desafios e problemas socioambientais (VON SPERLING, 1996).


O grau de poluição da água depende de características: físicas, como os sólidos em suspensão, coloidais ou dissolvidos; químicas formadas por matérias orgânicas e inorgânicas e biológicas (seres vivos). Todas as formas de contaminação colaboram para a carga sólida e as características físicas e químicas que vamos encontrar no corpo hídrico. Os sólidos de menor dimensão são chamados de dissolvidos e os de maior dimensão são os em suspensão. Um filtro de papel é geralmente usado para realizar a medida e os coloidais são os intermediários. Todos são importantes para a qualidade da água e o tratamento. Exemplos de sólidos dissolvidos são matéria orgânica e sais, dos coloidais as argilas e os vírus e dos suspensos algas e algumas bactérias. Dentre os seres vivos, os de maior relevância na avaliação da qualidade da água são os microrganismos que estão diretamente associados à grande parte das doenças de origem hídrica. Os microrganismos de forma geral pertencem ao reino biológico dos protistas. Os parâmetros físicos que mais utilizamos são (VON SPERLING, 1996: 22 - 40):


· Cor – relacionados com a decomposição de matéria orgânica e aos resíduos industriais;

· Turbidez (passagem da luz) – relacionados com partículas naturais, despejos domésticos e industriais, microrganismos e erosão;

· Sabor e odor – relacionados com gases naturais ou industriais, decomposição orgânica e microrganismos;

· Temperatura – relacionados com as alterações industriais e a agropecuária;

· pH – relacionados com rochas, gases, matéria orgânica, fotossíntese e despejos domésticos e industriais;

· Alcalinidade – relacionados com rochas, material orgânico e despejos industriais;

· Acidez – relacionados com matéria orgânica, gases, despejos industriais e mineração;

· Dureza – relacionados com minerais e despejos industriais;

· Ferro e manganês – relacionados com solo e despejos industriais;

· Cloretos – relacionados com minerais, salinização, despejos domésticos e industriais e irrigação;

· Nitrogênio – relacionados com compostos biológicos, despejos domésticos e industrias, excrementos e fertilizantes;

· Fósforo – relacionados como solo, matéria orgânica, despejos domésticos e industriais, excrementos e fertilizantes;

· Oxigênio dissolvido – relacionados com atmosfera, organismos e aeração artificial;

· Matéria orgânica – relacionados com processos naturais e despejos domésticos e industriais;

· Micro poluentes inorgânicos – relacionados com despejos industriais, mineração e agricultura;

· Micro poluentes orgânicos – relacionados com extração de madeira, despejos industriais, detergentes, petróleo e agricultura.


Quase todas as atividades humanas no território alteram as características dos recursos hídricos de forma mais ou menos intensa. Cada tipo de uso da água exige um requisito para a qualidade. Os principais usos dos recursos hídricos são abastecimento humano, industrial, irrigação, dessedentarão de animais, recreação, lazer, geração de energia, transporte e diluição de despejos. Os poluentes são de origem urbana e rural e provenientes de esgotos domésticos, descargas industriais e escoamento superficial. O esgoto tem origem doméstica, no comércio, nas instituições, nas descargas industriais e na infiltração. O sistema mais eficiente para o tratamento de esgoto e o recomendado no Brasil é o do separador absoluto que separa o esgoto das águas pluviais em linhas de drenagem independentes. O dimensionamento das estações de tratamento depende da vazão, com a presença ou não de águas pluviais. A produção de esgoto está relacionada com o consumo de água e o tipo de comunidade. Num povoado rural o consumo per capta varia de 90 a 140 litros por dia e numa cidade grande pode alcançar 300 litros por dia (VON SPERLING, 1996: 52). O consumo é influenciado pelo clima, o porte da comunidade, as condições econômicas e os hábitos, a industrialização, o desperdício. Ainda temos que considerar as ligações clandestinas e inadequadas e a capacidade de infiltração do solo. Os canais fluviais possuem uma capacidade natural de depuração, mas existe um limite de suporte. O tratamento é uma estratégia importante, mas “deve-se analisar a sua possível combinação com algumas das outras estratégias” (VON SPERLING, 1996: 131). Existem formas de tratamento preliminares, primárias, secundárias e terciárias. Nos níveis preliminar e primário parte da matéria orgânica é retirada através de mecanismos físicos. No tratamento secundário predominam os mecanismos biológicos e grande parte da matéria orgânica é retirada e o terciário, mais raro, visa a retirada de poluentes específicos, não biodegradáveis. Os mais comuns, geralmente implantados ou que fazem parte dos projetos das cidades brasileiras, são os secundários como lagoas de estabilização, lodos ativados, sistemas aeróbicos, sistemas anaeróbicos e disposição no solo.


Referência

VON SPERLING, M. Introdução à Qualidade das Águas e ao Tratamento de Esgotos. Belo Horizonte: UFMG, 1996.


Francisco Pontes de Miranda Ferreira é Jornalista (PUC Rio) e Geógrafo (UFRJ) com mestrado em Sociologia e Antropologia (UFRJ), pós graduação em História da Arte (PUC Rio), pós-graduação em Desenvolvimento Territorial da UERJ Doutorando no Programa de Pós-Graduação em Meio Ambiente da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, membro do conselho editorial do Jornal Poiésis.

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