Jornal Poiésis
Perspectivas territoriais multidimensionais e participativas

Precisamos de uma nova concepção de geografia, planejamento e gestão territorial que seja crítica, histórica e multidimensional. Processos econômicos, políticos, culturais e ambientais precisam ser levados em consideração, com o objetivo de se promover processos participativos e a preservação do ambiente e das identidades. Os territórios produzem espaços interativos, contraditórios e conflituosos, em constante movimento. Aspectos concretos e abstratos se interagem quando analisamos o território.
O território deve ser estudado dentro de uma perspectiva dialética em que mudanças contínuas provocam descontinuidades temporais e espaciais e conquistas sociais são desenvolvidas através da luta política. Os processos que se manifestam no território, contém relações históricas, de poder, de identidades e imanentes à própria vida cotidiana.
Os territórios possuem usos políticos e econômicos e o espaço geográfico é apropriado pelos agentes do capital onde produção, circulação e valorização do capital ocorrem. Acontece também a reprodução da força de trabalho. A mais-valia está presente na circulação e no consumo de mercadorias, ligados à reprodução da força do trabalho. Estas relações envolvem o nível de infraestrutura existente e malhas e redes se desenvolvem. As forças produtivas e as relações de produção dão formas e significados ao território, onde vários conflitos acabam sendo gerados. Estas relações são intensificadas nos espaços urbanos, mas os processos rurais são parte integrante, numa relação multidimensional. O urbano sendo ligado ao rural e o rural ao urbano numa interligação dialética. O território como um todo é uma construção social, onde as formas de uso e apropriação se manifestam e envolvem relações de poder.
Redes e territorialidades
As redes interconectam lugares, pessoas e atividades em que as próprias transações comerciais interligam espaços urbanos e rurais. Produtos do rural vão para a cidade e vice-versa. Existem também as redes políticas e culturais presentes em partidos, movimentos sociais, sindicatos, redes de ensino...
Nos espaços urbanos há uma concentração e uma proximidade maiores. Os meios de comunicação intensificam e aceleram este processo. Nas cidades se tornam mais fortes também os jogos e as tramas de poder. Tudo altamente influenciado pela mundialização e os investimentos internacionais, fato que hoje vem acompanhado da flexibilização nos processos produtivos e a fluidez do capital. As territorialidades envolvem:
1. Relações sociais e de poder;
2. Intencionalidades;
3. Relações sociedade-natureza.
Fatos que provocam desterritorializações e reterritorializações importantes. Neste conjunto formam-se fixos e fluxos visíveis e invisíveis. Desigualdades e diferenças marcantes são geradas.
Considerações
Precisamos buscar formas para a promoção da justiça social, preservação ambiental e fortalecer os princípios de solidariedade e cooperação. Temos que enfrentar as administrações autoritárias que não promovem uma visão e uma prática interdisciplinar. Predominam atividades fragmentadas, pontuais e descontínuas sem a participação popular. Temos que promover maior conexão entre o urbano e o rural, já que os impactos negativos afetam ambos de forma complexa e interligada como desmatamento, desenvolvimento dos agronegócios, formação de bairros periféricos...
Necessitamos valorizar as potencialidades locais para realizarmos as transformações necessárias, indo muito além das relações apenas econômicas e entender o desenvolvimento local como um processo histórico e complexo. Promover as formas de participação popular na gestão da sociedade e do território, diminuindo e eliminando as desigualdades e a degradação ambiental – distribuir riquezas e preservar o ambiente. Os pesquisadores científicos tem um papel importante neste processo.
Referência
SAQUET, M. A. O Desenvolvimento numa perspectiva territorial, multidimensional e democrática, Resgate, Vol. XIX Nº 21, 2011.
*Francisco Pontes de Miranda Ferreira é Jornalista (PUC Rio) e Geógrafo (UFRJ) com mestrado em Sociologia e Antropologia (UFRJ) e pós-graduação em História da Arte (PUC Rio), membro do conselho editorial do Jornal Poiésis.