Jornal Poiésis
Percepções do local e do espaço

Francisco Pontes de Miranda Ferreira
O geógrafo sino-americano Tuan propõe uma abordagem humanista para a geografia com o objetivo de compreendermos melhor as condições humanas presentes no território onde a dimensão cultural é enfatizada. A preocupação principal do autor é a construção de um mundo melhor. Tuan destaca, portanto, as relações afetivas que estão presentes num território. Há uma estreita relação entre o espaço geográfico e as questões simbólicas. As ações humanas no território são influenciadas por esses significados. Existe um universo imaginário importante que dialoga com o espaço geográfico. As virtudes e os aspectos culturais estão presentes nas percepções das pessoas diante de seu território. O cotidiano das relações humanas se reflete no espaço geográfico e criam sentidos de pertencimento ou de rejeição. Hoje muito das percepções espaciais são apagadas pelo consumismo exacerbado da modernidade em que as pessoas utilizam para enfrentarem o vazio existencial. Nos espaços de convivência as pessoas deveriam criar a reciprocidade, o pertencimento e o envolvimento necessários para a transformação da sociedade (PEREIRA e FERNANDES, 2011). A relação sociedade/natureza é uma construção histórica e cultural e os atos de cooperação podem transformar os espaços geográficos e as relações sociais.
Espaço e lugar são experiências comuns em que o lugar é a segurança e o espaço a liberdade. Estamos inseridos no lugar e desejamos o espaço da liberdade. Os animais possuem também um lugar onde exercem suas necessidades biológicas e os seres humanos acrescentam os aspectos simbólicos. Espaço e lugar se correlacionam em experiências complexas e assim constroem sua realidade. Neste ato os sentimentos e as vivências são de extrema relevância. Tuan nos explica que experiência tem origem em ver os perigos, aventurar-se no incerto e enfrentar os riscos da natureza. Assim os seres humanos criam sentidos intensos com seu espaço e tomam consciência do território. O autor fala de três espaços: mítico, pragmático e abstrato (teórico) e a base é a percepção (TUAN, 1983). Tuan chama de “topofilia” o que junta os laços afetivos dos seres humanos com seu ambiente. Os objetos e as relações presentes no lugar e no espaço produzem uma personalidade para o território. Ao longo da vida as pessoas vão se apegando aos espaços que vivem e criam laços emocionais importantes. O espaço, entretanto, está aberto para as transformações, para a construção da emancipação e da liberdade.
Referência
PEREIRA, C. J. e FERNANDES, D. Cultura e Dimensões do viver em Yi-Fu Tuan: algumas aproximações geográficas. Curitiba: RAeGA, 2011.
TUAN, Y. F. Espaços e Lugares: a perspectiva da experiência. São Paulo: Difel, 1983.
*Francisco Pontes de Miranda Ferreira é Jornalista (PUC Rio) e Geógrafo (UFRJ) com mestrado em Sociologia e Antropologia (UFRJ), pós graduação em História da Arte (PUC Rio), Doutorando no Programa de Pós-Graduação em Meio Ambiente da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, membro do conselho editorial do Jornal Poiésis. É diretor da Arcalama Serviços de Comunicação (www.arcalama.com.br)