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Para que ciência?

Francisco Pontes de Miranda Ferreira
Carl Edward Sagan nasceu no Brooklyn em Nova York em 1934 de família operária e faleceu em 1996. Em seu último livro, que analisaremos alguns aspectos em seguida, demonstrou extrema preocupação com a baixa valorização e o negacionismo da ciência por grande parte da população e das pessoas influentes na política e na economia. Além de astrônomo e físico acadêmico, Carl Sagan, ficou muito conhecido com seu trabalho de divulgação e popularização da ciência, muito bem representados em seu programa de televisão e livro “Cosmos” que fez extremo sucesso em todo o mundo nos anos 1980.
Estamos vivendo um período de negativismo da ciência e de sensacionalismo mediático em que o pensamento científico precisa ser urgentemente recuperado e popularizado. O analfabetismo científico coloca a democracia e a liberdade em risco. O ceticismo científico não vende bem, e sim a pseudociência. A educação também se encontra em crise profunda. Assim grande parte da população nega o aquecimento global e os perigos do desmatamento das florestas tropicais e da poluição. Carl Sagan (1997) recorda Hipócrates que tirou a medicina da superstição e hoje a prática médica salva e prolonga vidas. Hipócrates confessou os limites do conhecimento médico e defendeu a necessidade de pesquisarmos mais. A descoberta dos micróbios faz com que tomamos medidas cotidianas de higiene e assistimos no início do século XXI o enfrentamento da Covid para nos provar a importância da ciência e, ao mesmo tempo, o negacionismo de parte da população e de governantes.
A ciência também desenvolveu muitos aspectos negativos ao produzir as armas nucleares, os agrotóxicos e o risco climático são consequência da ciência e da tecnologia aliadas com a política e a economia. Mas, a ciência também está dando o alerta, que muitos negam por interesse econômico e político. Ainda predomina na sociedade a imagem do cientista maluco e as históricas dos filmes de ficção científica. A verdade científica é negada da mesma forma em que se nega a forma em que uma minoria se enriquece a custas da pobreza e da miséria.
É desanimador descobrir a corrupção e a incompetência governamentais, por exemplo, mas é melhor não saber a respeito? A que interesses a ignorância serve? (...) Se ansiamos por acreditar que as estrelas se levantam e se põem para nós, que somos a razão da existência do Universo, a ciência nos presta um desserviço esvaziando nossa presunção? (SAGAN, 1997: 20).
A ciência faz parte de nossa vida e agora temos que aproveitar o melhor de todas as suas vantagens. A ciência não merece ser banalizada, mas a mídia apresenta para o público a pseudociência e o sensacionalismo, satisfazendo desejos e fantasias. As pessoas desconhecem a ciência e por isso é mais fácil acreditar na mídia. As próprias instituições de ensino não trabalham bem a ciência, não incentivam o pensamento e a investigação de forma crítica. A sociedade está cheia de charlatões, exorcistas, videntes que ganham fortunas com espetáculos e fanatismos. A China em documento de 1994 manifestou sua preocupação urgente com o desenvolvimento e o ensino da ciência, preocupada com a expansão rápida da pseudociência (SAGAN, 1997). A pseudociência trabalha com ideias infalíveis e incontestáveis e ganha força com a desconfiança e as incertezas de um período sem esperanças em que vivemos. Temos, portanto, que investir muito na divulgação científica e com os projetos de expansão universitária que aproximam os cientistas do povo. A ciência, assim como a democracia, deve incentivar a crítica e o debate. Para a ciência nem as leis da natureza são totalmente comprovadas ou verdades absolutas.
Nós criamos uma civilização global em que os elementos mais cruciais como o transporte, as comunicações e todas as outras indústrias, a agricultura, a medicina, a educação, o entretenimento, a proteção ao meio ambiente e até a importante instituição democrática do voto dependem profundamente da ciência e da tecnologia. Também criamos uma ordem em que quase ninguém compreende a ciência e a tecnologia. É uma receita para o desastre. Podemos escapar ilesos por algum tempo, porém mais cedo ou mais tarde essa mistura inflamável de ignorância e poder vai explodir na nossa cara (SAGAN, 1997: 31).
As descobertas e os métodos científicos devem visar o bem coletivo. A ciência eleva o espírito quando começamos a compreender a complexidade da vida, da natureza e do universo. A ciência trabalha com teorias e experimentos e nunca atinge a verdade absoluta e está sempre gerando novos questionamentos. Não deve, portanto, estar limitada a poucos e sim atingir o máximo da sociedade e ter como objetivo principal a eliminação da pobreza e encorajar o desenvolvimento de conhecimentos que visam sempre a construção de uma sociedade melhor.
A ciência é muito simples. Quando se torna complicada, em geral é porque o mundo é complicado ou porque nós é que somos complicados. Quando nos afastamos assustados da ciência, porque ela parece difícil demais (ou porque não fomos bem ensinados), abrimos mão da capacidade de cuidar de nosso futuro. Ficamos privados dos direitos civis. A nossa autoconfiança se deteriora (SAGAN, 1997: 31).
Referências
SAGAN, C. O Mundo Assombrado pelos Demônios. São Paulo, Companhia das Letras, 1997.
Francisco Pontes de Miranda Ferreira é Jornalista (PUC Rio) e Geógrafo (UFRJ) com mestrado em Sociologia e Antropologia (UFRJ), pós graduação em História da Arte (PUC Rio), pós-graduação em Desenvolvimento Territorial da UERJ Doutorando no Programa de Pós-Graduação em Meio Ambiente da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, membro do conselho editorial do Jornal Poiésis.