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  • Foto do escritorJornal Poiésis

Paisagens num dia de chuva




Braz Chediak*


Hoje precisei ir ao banco. Como é domingo, por causa da chuva e do isolamento, as ruas estavam vazias e me indaguei: o que é a história de uma cidade? Uma indagação idiota, reconheço. A história de uma cidade é a própria cidade, sua geografia, suas ruas, suas pessoas...


Algumas pessoas são personagens folclóricas, e sobre elas inventamos causos, anedotas. Outras fazem parte de uma casa, uma janela... como, por exemplo, uma menina que vi, há uns 50 anos, debruçada na sacada de um pequeno sobrado onde agora é um edifício


Nunca soube seu nome, nem mesmo tenho certeza de seu rosto, pois com o tempo o fui modificando, acrescentando um traço, um sorriso... E hoje, já velho, às vezes me pergunto se ela, realmente, existiu ou foi apenas uma paisagem da memória. Sim, também há paisagens que fazem parte de nossas vidas, estão em nós para sempre. A estação de trens, a ponte da Cotia, a subida do Herculano, por exemplo, são dessas paisagens que ficaram em mim e até hoje me provocam um sentimento de ternura, pois quando criança, eram elas que me diziam que eu estava próximo de casa, da proteção da casa.


Às vezes, quando passo pelos bairros mais humildes, paro numa esquina e fico observando uma velha casa e me dou conta que estou diante do eterno. Quantas pessoas viveram ali. Quantas carícias foram feitas, quantas juras de amor, quantas traições...


Quantos sonhos foram sonhados nessas velhas construções? Quantos se realizaram? Quantos foram sufocados pelos preconceitos, pelo medo, pela miséria? Quantos seres não conseguiram nem mesmo sonhar?


Neste dia todas as paisagens serão paisagens de encontros, de abraços, de alegria. Neste dia seremos dignos do "Amai-vos uns aos outros" e poderemos viver em paz!


Braz Chediak é escritor, mora em Três Corações MG





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