Jornal Poiésis
Os muros do ego

Camilo Mota
O sentimento de fragilidade se revela para o ser humano desde a infância e o acompanha por toda sua vida. A necessidade de se sentir protegido o leva, entre outras coisas, a buscar certa estabilidade emocional e mental no contato com outras pessoas que comunguem de mesmos sentimentos, formando sociedades e grupos, por exemplo, e erguendo para si bases nas quais a religiosidade é uma das mais evidentes forças compensatórias ao sofrimento humano.
O movimento para criar meios de se proteger contra as ameaças externas e internas faz parte dos mecanismos que o Ego elege para si para se ver livre de qualquer coisa que o perturbe. Nessa incessante busca de equilíbrio entre satisfazer desejos e evitar a dor, o homem ergue barreiras que muitas vezes o isolam do conhecimento de si mesmo.
O indivíduo ergue verdadeiros muros que o blindam do contato com aquilo que mais teme, seja uma ameaça do mundo físico, seja de alguma pulsão que o incomoda inconscientemente e que ele quer evitar a qualquer preço. O uso da religião, por exemplo, como meio de dominar as próprias paixões é um desses caminhos de autocontrole. É útil no sentido de auxiliar o sujeito a compreender seus próprios limites, desenvolvendo padrões éticos de comportamento e fortalecendo seu Princípio de Realidade para saber adiar a satisfação do prazer. No entanto, pode se tornar meio de coerção e repressão que leva à criação de barreiras que impedem o fluir natural de seus desejos.
Neste sentido, quando o homem ergue para si um muro que o livre de ser atacado, também cria um obstáculo para ver com clareza o que está se passando. Metaforicamente é como se construíssemos a casa de nossos sonhos, com toda a beleza e conforto que desejávamos, mas colocamos em seu entorno um muro que impeça qualquer um que esteja do lado de fora apreciar o que construímos, além de nos impedir de também vislumbrar a paisagem externa e ver quem está chegando para nos visitar.
Esses muros são mais comuns do que imaginamos. Estão presentes no discurso a todo momento. Quando o sujeito define para si mesmo um modelo de sexualidade normal e não admite que outra pessoa possa lidar de maneira diversa com o mesmo impulso. Quando elege para si o medo de ser julgado pelas demais pessoas de suas relações (medo de ser punido pelo pai ou pela mãe), fazendo com que deixe de realizar aquilo que sente ser bom para si. São pequenos exemplos de como se constroem barreiras que impedem, principalmente, de enxergar a si mesmo.
O homem que conhece a si mesmo liberta-se do medo de perder, de errar e de ser feliz. Ao erguer obstáculos auto protetivos, sem estabelecer uma flexibilidade saudável, abre caminho para a construção de neuroses e de um mal estar contra o qual estará constantemente se armando para não sofrer.
Camilo Mota é psicanalista e terapeuta holístico, atende em Araruama nas especialidades de psicoterapia psicanalítica, reiki, florais de Bach, e auriculoterapia francesa. Contatos: (22)99770-7322. www.camilomota.com.br