Jornal Poiésis
Opressão digital

Flávia Joss
Há muito que as redes sociais invadiram nossas vidas. Quem não lembra do falecido Orkut e do My Space? Perdi fotos lindas por ter esquecido a senha, o que é muito comum para mim, infelizmente ... um dias desses bloqueei meu cartão de crédito, fiz uma compra e quando passei o cartão, “deu branco”, não conseguia me lembrar da senha, sorte que a minha mãe estava comigo e resolveu meu problema.
Quando conheci o Facebook, me apaixonei. Meus alunos se encarregavam de me ensinar. Depois enjoei, achava tão monótono e sem sentido. Fiquei um tempo afastada..., mas como é difícil viver sem essas mídias. Demorei para me entregar ao Instagram, criei um perfil por pressão dos amigos, porém não sabia usar a ferramenta, esquecia de postar. Foi na pandemia que passei a usar o Instagram de modo mais consciente, se é que podemos usar essa expressão. Aprendi a usar os filtros, a postar com mais frequência, a fazer live, compreender um pouco melhor a dinâmica de horários e público. Ficava preocupada com o famigerado engajamento. Então, me dei conta de que estava vivendo sob a opressão dos novos tempos.
É muito estranho a forma como adentramos o universo das redes sociais. Uma foto hoje, uma outra mais elaborada amanhã, as curtidas e comentários que inflam nosso ego, o número de seguidores crescendo... tudo se encarrega de nos oprimir e escravizar. Percebi que a cada post eu não largava o celular para acompanhar as curtidas, uma ansiedade me sobrevinha sempre que não havia comentários ou compartilhamentos. Entrei ‘na pilha’ de fazer posts diários, quase enlouqueci. Criei um stress totalmente desnecessário. Ao precisar parar com as publicações por um mês devido a uma cirurgia, vi meu engajamento despencar, contudo essa situação abriu meus olhos. Eu percorria os stories dos outros, tanta gente falando demais, alto demais com profundidade de menos. Não tenho idade para ser blogueira, não vou brigar pela atenção dos outros, não vou posar de feliz o tempo todo. Eu sou real!
Continuo usando a rede, pois eu gosto. Todavia não quero me sentir pressionada... vou postar quando puder, não vou me comparar, não vou comprar seguidores. Quero ter fé que os amigos vão curtir, comentar e compartilhar simplesmente porque acreditam no que eu faço, torcem por mim e são generosos o suficiente para me oferecer ‘um biscoito’. Não me rendi ao Twitter... Estou cansada de likes e cancelamentos. Quero apenas desacelerar e aproveitar o lado bom que as mídias digitais podem oferecer.
Flávia Joss é Professora de Língua Portuguesa e Literatura, especialista em Gêneros textuais e Interação. Possui cursos de aperfeiçoamento nas áreas de Arte& Espiritualidade, Escrita Criativa e Poesia Falada.