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Onde tem menos gente e mais sentido



Ana Gabriela Saba


Com respeito a toda forma de arte e sua necessidade intrínseca à subjetividade humana, gostaria de trazer aqui a leitura e interpretação do meu olhar, que pode sim ser uma visão somente minha e sem sentido para outros. Mas venho aqui compartilhá-la e dar-lhes a possibilidade de dialogar, e assim, refutar meu olhar e sensações.

A cultura e suas muitas artes são produções sociais, eu diria que são as construções que trazem o sentido à vida com leveza e beleza. O gosto pela arte, dizem por aí ser pessoal, entretanto meu objetivo aqui é evidenciar que nosso gosto pode ser moldado. Digo isto para explicar minha predileção por uma exposição em relação a outra, sendo que ambas ocupam a mesma instituição expositiva na presente data, o CCBB RJ.





A arte e a cultura têm mercados e públicos específicos. Os artistas que o digam, especialmente quando se trata de conseguir acessar e estabelecer sua arte como trabalho reconhecido. Então... com todo respeito à arte dos paulistanos Gustavo e Otávio, “Os Gêmeos”, que iniciaram no grafite, foram ampliando seu campo de atuação, solidificando suas técnicas e que consolidaram sua identidade visual com precificação robusta no mercado. A exposição “OSGEMEOS: Nossos Segredos” (até 23/01/2023) tem ampla divulgação, com longas filas para sua visitação, em determinados horários. Com uma arte gráfica e estática lindíssima, mas vazia. Isso mesmo, cheia de gente e vazia de sentido, quando há crítica social, elas parecem sem sentido e as obras que me pareceram mais impactantes, curiosamente não possuíam título, o que leva a indagar se mesmo os artistas acharam a subjetividade de sua arte ou ainda buscam sentido no que produzem.





Outra exposição “Walter Firmo: no verbo do silêncio a síntese do grito” (até 27/03/2023), no andar logo acima, mas que não gera filas de espera para sua visitação, é a do fotógrafo Walter Firmo. Com a devida intencionalidade inicio o parágrafo com a palavra “outra”. Há ampla discussão nos estudos sobre negritude, da questão racial ser estabelecida a partir da categorização de quem seria o “outro”, o despreterido socialmente. E vejam só, as fotografias são em sua maioria de pessoas pretas, em que Walter Firmo afirma que “a imagem não pode ser neutra. O poder do olhar deve influenciar pessoas, porque o ato de fotografar tem que ser político, e não um mero acaso instantâneo”. E que capacidade linda de tocar a alma a de Walter Firmo, seus retratos tornaram-se clássicos, ele dialoga e transita pelas culturas urbanas e rurais brasileiras com beleza e imagens magistralmente impactantes, com suas cores, detalhes e realidades atravessantes. Uma exposição cheia de sentido, essência de vida, crítica social, construtora de subjetividade e possibilidade de realidades outras serem muito possíveis.


Se tiverem a oportunidade visitem as duas, a arte revigora, constrói e forma nossas subjetividades; ela é vitalmente necessária. Aproveitem para sentir, experimentar e visitar seus pareceres e emoções... ah e critiquem, mesmo que seja a minha crítica.


Ana Gabriela Saba é Historiadora, doutora em Memória Social e educadora em projetos em relação ao Patrimônio Cultural.

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