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  • Foto do escritorJornal Poiésis

O sinistro de escrever



Matheus Fernando


Sempre quando vou escrever bate uma ansiedadezinha lá no fundo da alma. E vez por outra

ela se traduz na forma de perguntas. Algo como “o que eu vou escrever ?” ou “eu realmente preciso escrever?” Até que a pergunta mais tenebrosa de todas dá o ar de sua graça: “Como é que se escreve?”


Na verdade, ver essa barrinha piscando me convidando ao inesperado, ao inóspito, ao caos, a coisas que na maioria das vezes nem eu tenho conhecimento me tirou do terror e como passar dos anos aliado à prática fui literalmente teletransportado para o tesão de ver essa mesma folha em branco.


A segunda pergunta por acaso foi respondida um pouquinho mais cedo. Já no segundo semestre da faculdade o querido professor Maddi Damião vendo um jovem poeta precoce zuretando de tanto recitar poesia por aí - eu no caso - puxou a barra de sua saia e disse no imperativo: “Leia o livro ‘Cartas ao jovem poeta’ do Rainer Maria Rilke!”


Lá eu encontrei respostas para perguntas que eu nem sabia que tinha. Contudo, essa foi certeira: “Volte-se para si mesmo. Investigue o motivo que o impele a escrever; comprove se ele estende as raízes até o ponto mais profundo do seu coração, confesse a si mesmo se o senhor morreria caso fosse proibido de escrever. Sobretudo isto: pergunte a si mesmo na hora mais silenciosa de sua madrugada: preciso escrever?” Sem pensar duas vezes, cheguei a uma resposta afirmativa para essa pergunta. Sou assaltado por ideias, por enredos, por personagens, por histórias o tempo todo dentro de mim. As madrugadas são minha sina.


Não sei como que funciona isso para os meus amigos escritores. Mas trata-se de um ofício devidamente prazeroso assim como angustiante por vezes. Acho incrível essa dinâmica e perceber como há um prazer absurdo mesmo no desprazer, enfim Lacan explica.


Mas seria o ato de escrever realmente um ofício? Escrever se aprende? Geralmente é sobre estar nessa corda bamba? Trata-se de “um dom?” Não! Essa eu sei, nada de dom. Que raiva que eu tenho quando falam para mim ou para outros tentantes que temos o dom. Dá até vontade de devolver a pergunta indagando ao meliante se ele tem o dom de falar. De falar besteira no caso, mas eu sou educado. Bebo um copo d'água na hora e engulo essa pergunta.


Bem, para essas 3 perguntas iniciais algumas coisas já estão mais ou menos esclarecidas. Só não sei o que fazer com as 149 que brotaram dentro de mim só na semana passada.


Matheus Fernando é aluno de graduação em Psicologia na Universidade Federal Fluminense. É escritor que transita entre gêneros literários como poesia, crônica, conto, peça, ensaio e artigo.


matheusfernando.contato@gmail.com

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