Jornal Poiésis
O respiro da pele

Dinovaldo Gilioli
A luta antirracista, antifascista, por justiça social precisa continuar. É uma resposta objetiva a um sistema que exclui milhões de pessoas no mundo a uma vida digna, principalmente os negros. As consequências devastadoras da pandemia do coronavirus devem provocar uma batalha ferrenha por distribuição de renda e o efetivo acesso a direitos. Eticamente, não é legítimo que uma minoria continue se apropriando da maior parte da riqueza produzida pela maioria.
Se não houver uma mudança, poderemos ter uma convulsão social jamais vista. O assassinato de George Floyd nos EUA é o estopim de uma revolta antirracista que se avizinha também no Brasil, com as recentes e inadmissíveis mortes de João Pedro de 14 anos e Miguel Otávio de 5 anos. Como nos lembra o ativista Nino Brown, isso tem raízes profundas: "os Estados Unidos são bem similar ao Brasil. Ambos temos presidentes cruéis, que estimulam esses racistas contra as pessoas negras, contra indígenas. Não é um problema isolado. É um problema de um sistema capitalista global".
Mesmo diante dos limites impostos por uma pandemia e os seus efeitos por causa das aglomerações, que já vem ocorrendo no Brasil com os apoiadores de Bolsonaro, a mobilização protagonizada pela juventude dos EUA começa a ecoar em várias partes do mundo, ganhando contornos inimagináveis. Há um apelo de que nenhum tipo de atrocidade e de opressão deve ser tolerada, em nome da ordem que vem garantindo os privilégios para uma casta que se considera superior e dona do mundo.
A frase, "eu não estou conseguindo respirar", dita por Floyd, em tom baixo, quando estava
sendo sufocado, se transformou num grito de liberdade, de apreço e apego a vida. Os que
ousam calar esse grito, na marra, devem preparar os seus ouvidos e aprender a escutar!
Dinovaldo Gilioli é poeta, mora em Florianópolis-SC.