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  • Foto do escritorJornal Poiésis

O que traz o CLUB HOUSE?

Atualizado: 29 de mar. de 2021



Matheus Fernando*

Para muitos essa é a pergunta que não quer calar. Diferente de tudo que já foi criado quando pensamos em redes sociais - que na maioria das vezes de social não tem nada - a proposta para do novo app é uma rede social só de áudios, disponível apenas para Iphone (IOS) sem previsão ainda de quando será disponibilizado para Android uma vez que ainda está em versão de testes.

Para criar uma conta no Clubhouse é necessário receber um convite de um contato que já usa a rede social, o que torna o app ainda mais exclusivo uma vez que o número de convites é limitado. A nova rede é uma mistura daqueles programas de rádio antigos com reality show. Só que sem aquela porta de entrada burocrática, enrijecida que é entrar num programa de rádio ou de TV por exemplo.

Eu baixei o app há uns 5 dias e a cada momento livre eu corro para alguma sala. Ponho um fone no ouvido e vou fazer as coisas de casa como lavar uma louça, estender uma roupa e por aí vai. Nos últimos tempos foi, sem dúvidas, a melhor experiência antropológica já criada no mundo, ou pelo menos para o meu mundo.

As demais redes sociais são guetos sociais. Eu vejo o Instagram que é uma rede de fotos, como uma mera vitrine. Não há muito espaço para o humano por trás da conta, por mais que alguns influentes tentem. O Facebook, o Tweeter não são muito diferentes só que com um teor de arena, como um Coliseu sobretudo se você pensar na polarização que tem ganhado força nos últimos anos. O mundo tem ficado um pouco chato, sabe? O Club House vem estreitando um pouco isso.

Ontem eu estava numa sala de bate papo sobre empreendedorismo que por acaso apareceu o Danilo Gentili e falou exatamente isso só que dos programas de TV. “Quando te chamam para ser entrevistado há um script que pode ou não pode ser falado” se você foge um pouco do "prescrito" eles te jogam na Arena, crucificam você. Não há espaço para diálogo em nenhum lugar. Acabamos por nos fechar nos guetos que são nossas redes sociais e achamos que o mundo é aquilo, são só os seguidores que comungamos com sua forma de pensar e o ademais? Para muitos nos últimos tempos não passam de Fascistas e por aí vai… você já deve conhecer o contexto.

A escuta e o diálogo são algo cada vez mais escasso em nosso tempo. Não estou falando de extremismos, estou falando do que o Club House trouxe. São salas de bate papo que comportam no máximo 5.000 pessoas e exatamente por não ter a imagem de ninguém, somente a voz, a vulnerabilidade, o humano, as reflexões são variáveis que fazem desse app um ambiente singular.

Ontem por exemplo eu tive o privilégio de participar de uma sala cujo título era “Como crescer rápido no Club House”, mais uma sala de Marketing Digital. Pensei eu… mas não. Quando entrei lá, dentre inúmeras pessoas de guetos ilustres e diferentes encontro simplesmente o Padre Fábio de Melo - o padre mais influente e próximo que já tivemos -, o Tico Santa Cruz - vocalista da Banda Detonautas, agnóstico teísta - e Pablo Marçal - um dos maiores empresários atualmente no Brasil e cristão.


Nesse ambiente você precisa se despir de todos os seus títulos e é quase inevitável não abrir o coração, principalmente por não haver a métrica de vaidade que é ter milhares de seguidores, pelo menos por enquanto. Lá todo mundo é novo, é pequeno. O Padre Fábio contou sobre seus fracassos e anseios, episódios de síndrome do pânico e tantas outras histórias e singularidades que eu jamais imaginei que uma pessoa como ele poderia ter vivido. A mesma coisa o Tico Santa Cruz, quanto amor nas palavras de alguém que sempre foi estigmatizado e pareceu um personagem irreverente, mas que ao falar de suas crises existenciais chamou todo mundo para acolher com compaixão aquele que pensa diferente de você. Me surpreendi como o Pablo Marçal com tamanha sabedoria rege como um maestro as salas agregando valor e abrindo espaço para os diálogos mais inusitados possíveis fazendo da experiência do usuário um poço de lágrimas e reflexão em muitas das vezes.

Já houve notícias da intensiva do Mark Zuckerberg - fundador do Facebook - para comprar a plataforma, que por conseguinte foi negada. É certo de que uma ideia semelhante a essas - salas de bate papo aberta - seja criada, acoplada ao Facebook/Instagram o mais rápido possível. No mundo da inovação, sobretudo quando falamos dos touros por traz dessas empresas/redes, vence quem tem maior poder aquisitivo e influência.

Eu sei que lá não há espaço para o ‘coletivo de eu’ que há em outros lugares, em outras rodas de conversa. O que acontece é uma ‘mistura de nós’… você é obrigado a sentar numa mesa, a olhar no olho, a ouvir atento e se despir de todos os seus preconceitos antes de apontar o dedo enviesado pelas ideologias próprias que criamos em nossas mentes a partir dos vieses que na maioria idolatramos, na cara daquele que nem sequer conhecemos sua história - na maioria das vezes.

Muita coisa inusitada acontecendo, muitas bolhas estourando. Um movimento estranho está criando vida … estranho por ser singular. Dá até vontade de viver em sociedade novamente. É claro, falo isso tudo a partir das experiências que tive e das salas por onde passei. É claro que há outros guetos onde imperam apenas um certo viés de confirmação a partir de uma única voz. Não dá pra ser utópico… mas existe algo novo acontecendo em algumas salas, no Club House… Matheus Fernando é aluno de graduação em Psicologia na Universidade Federal Fluminense. É escritor que transita entre gêneros literários como poesia, crônica, conto, peça, ensaio e artigo.

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