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  • jornalpoiesis

O paraíso é onde mesmo?

Atualizado: 9 de jan. de 2022



Camilo Mota


Ele chegou a mim e perguntou:


- Doutor, você sabia que no paraíso não existe nem humor nem prazer?


Um sorriso me veio aos lábios, entre surpresa e encantamento:


- Paraíso existe? - soltei naquela reverberação analítica que me acomete quase sempre no consultório e fora dele. E retomei o discurso. - Me fale mais sobre o paraíso.


E meu interlocutor me provocou a imagem, questionando como eu me sentiria se estivesse sozinho, numa ilha deserta só para mim. Eu realmente não sei para que eu precisaria de uma ilha deserta particular, mas a geografia de paz que o espaço natural evoca é talvez a sensação mais ancestral que o ser humano pode ter de um estado idílico, de paz e tranquilidade. Está ali registrada no Livro do Gênesis. Afinal, ao se distanciar das forças vitais que o compõem em sua totalidade de corpo e mente, o homem se afastou do paraíso e o inventou como ideia. E a humanidade passa a buscar esse lugar ideal, sem humor, sem prazer, sem nada. Um lugar tão puro e calmo que eu chego a pensar: "Numa ilha tão paradisíaca, eu teria toda a paz que almejo? Mas, afinal, nessa ilha não haveria sequer mosquitos?". Pronto, o humor invadiu o paraíso e a ilha se desfez.


Mas o paraíso permanece. Não mais idealizado: agora composto de todas as forças que agem em mim, no meu corpo. Nós humanos nunca fomos expulsos de paraíso algum, apenas fomos perdendo a capacidade de se encantar com o volume e a intensidade que a vida proporciona, com seus movimentos, formas, linhas, fluxos. Redescobrir o paraíso em nós se faz necessário para compreendermos que somos parte da criação, como as formigas, os fungos e as águias.



Camilo Mota é psicanalista e terapeuta holístico, editor do Jornal Poiésis. Site: www.camilomota.com.br. Instagram: camilomota_psicanalista

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