O mundo ficou grande

Matheus Fernando

O mundo ficou grande. Grande até demais para o meu gosto. Me recordo de quando meu pai trabalhava em Botafogo e levava duas horas para ir e duas horas para voltar e eu achava o Rio de Janeiro tão longe quanto eu acho a China hoje - o que também não é tão longe já que para vir vírus de lá para cá é um pulo. Como morador de São Gonça, que era época sem acesso ao mundo digital, até a eternidade era mais longe.

Hoje em dia com um bom wi-fi é possível chegar a qualquer lugar mais rápido. É possível conversar em tempo real com uma pessoa do outro lado do mundo e dizem as más línguas que o teletransporte é o próximo passo.

Por vezes eu me sinto dentro do romance 1984 de George Orwell. No romance em questão eles fazem de tudo para reduzir a língua num radical mínimo de axiomas exatamente para impedir a reflexão do povo. As últimas tentativas de flexão com a língua portuguesa chegam a assustar. Estão brigando até com o advérbio, pobre coitado. Em nome da expansão de consciência saímos de um extremo e talvez estejamos indo para o outro.

Talvez a recente promessa de “expansão de consciência” tem nos retornado ao patrulhamento proposto já lá em 1894 por Orwell. Esses dias eu fui sair de casa e passou um drone por cima de mim. Voltei correndo e só saí quando me certifiquei que ele já tinha ido embora. Em que mundo estamos vivendo? Um Big Brother ambulante?

Nem vou mencionar o “Dilema das redes” para não angustiar ninguém. Mas acredito que também ninguém seja obrigado a consumir nada. E como viver distante de tanto algoritmo? Big Brother da vida real? Só sei que esse mundo está ficando grande demais. Não tem como parar esse tempo não, gente? George Orwell, volte aqui! Estou precisando tirar umas dúvidas com você, precisamos conversar seríssimo.

Matheus Fernando é aluno de graduação em Psicologia na Universidade Federal Fluminense. É escritor que transita entre gêneros literários como poesia, crônica, conto, peça, ensaio e artigo. matheusfernando.contato@gmail.com