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  • Foto do escritorJornal Poiésis

O inaudito entre Wagner e Ralph Zurmühle

Atualizado: 15 de fev. de 2021


Matheus Fernando


(Fundo: Nightwalk - Ralph Zurmühle)


O verdadeiro mundo é música. A música é o Inaudito. Quando a ouvimos, pertencemos ao Ser. Assim o filósofo Friedrich Nietzsche a vivenciava. Eu e Nietzsche não concordamos em tudo, na realidade discordamos em bastante coisa mas esse é um ponto de suas reflexões que tenho que tirar o chapéu. É evidente que sem música a vida seria um engano, e disso todos concordamos.


Não pretendo entrar no jogo da tarefa árdua de tentar definir o que é ou não é música até porque como diz o ditado popular, gosto é igual a fugidio, cada um tem o seu. Nietzsche era apaixonado em especial por um compositor e maestro chamado Wagner. E por Wagner estamos falando de música clássica. Um notável compositor de Óperas, ensaísta, diretor de teatro, o pacote completo - daqueles de orquestra e pompa. Seria uma noite daquelas no Teatro Municipal da cidade que o valor do ingresso inclusive assustaria alguns desavisados. Para amantes de teatro como eu cada centavo é pouco para um espetáculo desses.


Como venho de uma família de músicos sempre tive um ouvido apurado além do que é comum. E a paixão do meu pai por música clássica semeou sementes que eu vim colher há poucos anos. Lembro com clareza de após inúmeros jantares meu pai ficar na cozinha até mais tarde ouvindo a rádio MEC FM e suas filarmônicas. Esse estilo musical já era conhecido ao meu paladar. Contudo, meu mundo mudou quando conheci um pianista suíço chamado Ralph Zurmühle.


Lembro como se fosse ontem. Há mais ou menos quatro anos atrás, Início de madrugada, word aberto, tentativas de um jovem poeta e YouTube tocando música clássica aleatória. Quando de repente no primeiro acorde, foi como se ele tivesse entrado no meu quarto, sentado ao piano e cochichado em minha alma: Farewell, a primeira música que ele tocou para mim. Foi inevitável não transbordar pelos olhos. Foi inevitável não escrever nada naquela noite. Acorde por acorde, faixa por faixa, cd por cd. Como ele consegue fazer aquilo no piano?


A minha relação com a poesia, com a escrita, com a leitura, com o piano, com a música clássica, comigo mesmo mudou depois daquela noite para sempre. Passamos a escrever juntos desde então. Composições como Dreamesque, Hymn, Leaving home, Epitah e todas as outras de todos os seus cd’s tocaram em mim, acessaram em mim sensações, devir, autores, personagens, pessoas, o que talvez o Jung chamaria de mito. E lágrimas, muitas lágrimas. Comecei a estudar piano apenas para tocar suas partituras.


Fato é que a arte ajuda a viver porque senão a vida não saberia o que fazer quando assaltada por sentimentos de ausência de sentido. E às vezes o sentido me escorre entre os dedos, talvez seja por isso que Nietzsche recorreu tanto a Wagner, recorreu tanto ao seu próprio piano. O evangelismo do niilismo, do não sentido em sua obra é rasteiro, áspero, esvaziador.


Quando esse momento chega a minha casa, questionamentos e angústias do tipo … eu puxo uma cadeira para o Ralph - apelido de uso restrito apenas para os mais íntimos. Tenho escrito peças de teatro, livros e histórias contando com a ajuda do mestre. Tenho alguns projetos juntos ao Ralph, ele só não sabe disso ainda. Minha agenda é muito cheia e ainda não tivemos tempo para aquele famoso café. Quem sabe depois da pandemia? Preciso dar-lhe um abraço e agradecê-lo por tanto...


Matheus Fernando é aluno de graduação em Psicologia na Universidade Federal Fluminense. É escritor que transita entre gêneros literários como poesia, crônica, conto, peça, ensaio e artigo. matheusfernando.contato@gmail.com

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