Jornal Poiésis
O difícil processo de conviver consigo (capítulo 1)

Gratia Cynthia*
Gestos,
Observei atentamente.
Experimentei vários sentimentos.
Percebi as respostas dos meus sentidos.
Senti dor.
Muita raiva.
Investi.
Desisti.
Retornei.
Tentei.
Fracassei.
Chorei muito.
Até ficar com dó de mim.
Tive em alguns momentos amigos,
Que secaram minhas lágrimas.
Mas não há limite pra dor.
Quis morrer.
Sensação de fracasso.
Presa em meus próprios pensamentos.
Como companhia,
Só a minha essência,
E meus pensamentos.
Em um mundo sem cenário,
Sem imagens,
Todo cinza.
Fui traída,
Com requintes de crueldade.
Tentei ver o lado " bom".
Filtrar algo de positivo,
Ver beleza em meio ao caos.
Percebi que a verdade e o tempo,
São os únicos elementos reais.
Eles estão sempre presentes.
Às vezes lado a lado,
Às vezes a nossa frente.
Com nossos olhos de espelho não a vemos,
A verdade muda de forma.
São tantos os recursos mentais
que nós somos capazes de enganar os nossos sentidos.
Através da linguagem,
E das falas do nosso inconsciente.
Há uma dinâmica própria,
Que é singular em cada um.
Os mecanismos de defesa.
Nos defendemos de nós mesmos.
Estou na fase em que esses recursos se esgotaram.
Vivendo o luto de uma pessoa viva.
Sentimentos de revolta e frustração.
A raiva está se transformando em nojo.
O mais puro asco.
Preciso ter calma.
Sabedoria.
Maturidade.
Bom senso.
Preciso sair dessa fase.
Sei que não posso pular nenhuma etapa.
Só com a morte poderia fazer isso,
No entanto,
Não é racional tirar a própria vida.
O tempo é o nosso limite.
Nossa barreira.
Nosso "super ego".
Um mentor ou um carrasco.
É necessário estar em paz com ele.
Lembrar de sua existência com respeito.
Fazer dele um parceiro.
Já que está conosco desde que fomos gerados,
E que estará conosco no momento final.
*Gratia Cynthia é formada em Direito, mora em Araruama-RJ.