- jornalpoiesis
O caranguejo negro (e roxo)

Gratia Cynthia
Sou um caranguejo
Minhas patas,
Minhas pinças.
Sou negro
Forte e interessante,
Represento minha espécie.
Sou quase arte
Mas a arte só se completa,
Só existe quando alguém a vê.
Um quadro,
Multicores, multiformas,
Multi imaginação.
Em terceira dimensão.
Um caranguejo vira um alien,
Um ser galático
Que vem de outro planeta.
Há muitos caranguejos por aqui.
Alguns multicoloridos
Roxo, cinza, azul...
Fora do quadro
Existem e são reais.
Moram na lama
No lodo.
Ninguém vê beleza neles.
Quantos somos nós?
Exatamente assim...
Belos chafurdando na lama.
Só temos patas e pinças
E nos locomovemos lentamente.
Na diagonal.
Somos estranhos.
Um caranguejo nunca é só um caranguejo.
Não sei quem sou,
Não tenho pinças nem patas.
Sequer sei para onde vou.
Minhas pernas e pés cansados.
Não consigo chegar a lugar algum.
Fui imortalizada em quadro de Andy.
Uma pintura que ninguém entende.
Um caranguejo colorido
Forte, potente, mágico e assustador.
Quase um monstro.
No entanto é somente um caranguejo.
Tem cores exuberantes.
É quase arte.
É quase belo.
É bem real.
Ninguém nota.
Só o Andy que o viu em um lampejo.
Em um sonho talvez.
Nunca saberemos.
O quadro existe e vale milhões de dólares.
Como eu gostaria que alguém percebesse como eu pareço com aquele caranguejo...
Gratia Cynthia é poeta, escritora e tradutora, mora em Araruama-RJ.