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Mulheres gordas




Flávia Joss


Durante o mês da mulher usarei este espaço para dialogar com outras mulheres escritoras, a fim de ampliarmos nossas reflexões sobre os padrões que nos são impostos pela sociedade. Hoje compartilho com vocês uma crônica de Cínthia Fragoso, artista, professora, escritora e poeta sul baiana. Feminista convicta que ama café e tudo o que cabe dentro e fora das palavras. Já participou de diversas Antologias, é autora dos livros “Escrevendo para Elas” e “Meu Eros dito”, e membro do AILB (NY).


Mulheres gordas merecem ser escolhidas e amadas


Cínthia Fragoso


Meu corpo nunca se encaixou em um padrão. Desde criança o meu peso sempre foi distante das minhas colegas, independente dos meus ossos estarem aparentes ou não. Ainda assim, parece que mesmo tendo vivido uma série de opressões pelo tamanho do meu corpo, eu nunca tinha conseguido racionalizar essas experiências. Há algum tempo uma amiga me recomendou uma série chamada “Dietland”. Pump, a protagonista, é uma mulher gorda que passa por diversos tipos de violência e está na busca de se descobrir, inclusive no amor. O fato da minha dor e experiências serem tão semelhantes com a da Pump explodiu a minha bolha e fez questionar: por que tornou-se aceito que mulheres gordas não merecem amor? Justamente por isso não achamos cadeiras que nos caibam em restaurantes, não encontramos roupas do nosso tamanho, somos frequentemente abordadas com sugestões de dietas e cirurgias, não conseguimos passar em catracas, somos vistas como fetiche, somos diminuídas e escondidas em relações, somos humilhadas por médicos, vendedores, somos vistas em filmes, séries e no cotidiano como aquela que sempre será a melhor amiga da noiva, a engraçadinha da turma, a que come por 3, a que não faz nada da vida. Casar-se? somente se há uma razão capciosa. Nós, mulheres gordas, nos acostumamos a achar que o amor não nos pertence porque escutamos que merecemos somente o mínimo e muitas vezes esse mínimo vai se vestir como o máximo. Eu achava ok receber convites para ser amante, ou um elogio me quererem somente pelo tamanho da minha bunda; achava normal não ser assumida com desculpas triviais ou ser desqualificada quando me sentisse bonita. Eu achava que o amor não me pertencia porque eu não o via dentro de mim. Hoje a minha maior crença utópica é a realização de que toda mulher viesse ao mundo com o poder de se amar e aceitar o amor para si; que lutar fosse opcional ou se proteger algo desnecessário.


Consegue imaginar como seria potente um mundo em que mulheres gordas não aceitam um pedaço medíocre de afeto porque reconhecem que merecem todo o sistema solar?


Conseguem sonhar com o dia em que todas as mulheres poderão enxergar que existe amor em cada célula do seu corpo?


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