Jornal Poiésis
Modernidade e Modernismo – contradições entre a indústria e a arte
Atualizado: 6 de jul. de 2020

Francisco Pontes de Miranda Ferreira
Nossa ideia de modernidade partiu do século XVII em que alguns inventos como a bússola e a imprensa transformaram o mundo de maneira inimaginável. Descobertas mecânicas que, segundo Bacon, alteraram toda a aparência do mundo e, de acordo com Descartes, representavam o apogeu do conhecimento como produto exclusivo da razão humana. A história linear medieval foi substituída por um interesse pelo presente e acabando com a expectativa apocalíptica do fim do mundo, típica da Idade Média. As novas perspectivas da ciência abriam caminho para a noção de progresso – base do conceito de modernidade que representava um rompimento definitivo com o passado. Os modernos viviam um renovado mundo de descobertas e de novas maneiras de pensar e agir. Finalmente, a modernidade se concretiza com a Revolução Francesa – início de era. Revolução que deixou de significar ciclo e sim a produção de novos conceitos. A modernidade é concedida como “aberta” – uma continuação ininterrupta de rejeição ao passado. Hegel colocou então a história como revelação progressiva do espírito humano.
A ideia de progresso fez parte das grandes revoluções: americana, francesa e soviética, como símbolos do objeto da modernidade para a obtenção da liberdade sob a orientação da razão – um “glorioso alvorecer intelectual”, como afirmou Hegel. A Revolução Industrial materializou estes conceitos e o mundo moderno é, portanto, industrial. Só com o industrialismo o Ocidente tornou-se dominante e mundial. Industrializar-se se tornou símbolo de modernizar-se. O mundo moderno exigia o aço, o vapor e a velocidade. As maravilhas tecnológicas se tornaram realidade e inspiração para a ficção científica. Hoje quando falamos de fim da modernidade referimos a um esgotamento do industrialismo convencional. No entanto, industrialismo não se limita à tecnologia, ciência e crescimento econômico. Trata-se, antes de tudo, de um sistema em permanente crise e renovação e este processo não foi rompido. Modernismo
Modernismo como movimento cultural de várias forma nega a modernidade. Trata-se de uma liberdade estética e do pensamento. A cultura da modernidade foi, portanto, subversiva a ideia de modernidade. Muitas vezes hostil à civilização moderna e contra a racionalidade. A poesia de Keats, Blake, Wordsworth, Byron em defesa dos sentimentos e da imaginação espontânea servem como exemplos. A arte realizando assim a crítica ao industrialismo, presente nas obras de Dickens e Lawrence. Muitas vezes, recuperando e engrandecendo formas de vida pré-modernas. O romantismo buscou assim criticar o presente inumano e pouco criativo do advento moderno. Ao mesmo tempo, estes artistas aproveitaram-se das oportunidades da vida moderna urbana, criando assim o flâneur e o Dandi. Mas, a hostilidade a ideia de progresso marcou grande autores como Edgar Alan Poe e Baudelaire. A cidade moderna oferecia uma nova espécie de beleza. No entanto, Delacroix não pintava cenas da vida moderna. O modernismo artístico está muito mais próximo de um estado de espírito do que da própria vida moderna. A estética não necessita ser contemporânea, ela é livre. Muitas vezes, os artistas modernistas procuravam o que estava escondido nas aparências reveladas na vida e nas cenas modernas. De várias formas, a modernidade é transitória, em permanente movimento, mas não linear. Em termos de literatura podemos até afirmar que o século XIX foi mais ousado e até moderno do que o século XX e agora os teóricos da pós-modernidade resgatam Baudelaire. *Francisco Pontes de Miranda Ferreira é Jornalista (PUC Rio) e Geógrafo (UFRJ) com mestrado em Sociologia e Antropologia (UFRJ) e pós-graduação em História da Arte (PUC Rio), membro do conselho editorial do Jornal Poiésis.