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  • Foto do escritorJornal Poiésis

Locais de solidariedade através do Buen Vivir


Francisco Pontes de Miranda Ferreira


Nosso desafio é tornar as localidades espaços de redes de solidariedade em que as comunidades marginalizadas vão conquistar sua autonomia e ganhar respeito e visibilidade. Locais antes marcados por injustiças socioambientais podem se tornar pilotos e referência de projetos alternativos com protagonismo popular em que as soluções para esgoto, resíduos sólidos, abastecimento de água e drenagem são construídas em parceria com a comunidade e de forma integrada com o bem-estar social, educação, saúde, economia solidária, participação política. Desta forma as comunidades saem do estado de vulnerabilidade e passam a ser protagonistas de transformações.


O Buen Vivir surge como uma proposta importante, que a partir dos indígenas da América do Sul, pode se espalhar para o mundo em que, novamente, o conceito de desenvolvimento hegemônico é questionado. Meta que foi colocada como rumo obrigatório para toda a humanidade pelo Ocidente colonizador através de planos, programas, projetos, bancos especializados e comunicação direcionada e que hoje coloca o planeta em risco. Conceito que ignora os povos tradicionais e que não respeita os limites e a sacralização da natureza e provoca enormes injustiças sociais. Modelo que produziu avanços tecnológicos, mas que não resolveu a miséria. Onde tudo é mercantilizado e privatizado. O Buen Vivir apresenta uma forma de emancipação que recupera os saberes e os conhecimentos dos povos ancestrais da América do Sul. Inclui assim, além do humano, água, solo, ar, montanhas, florestas e animais. Propõe uma mudança civilizatória e filosófica sem negar as vantagens da tecnologia. Constrói assim os Direitos da Natureza, onde o ser humano está inserido. Norma presente na Constituição do Equador de 2008. A natureza se torna sujeito e não apenas objeto (ACOSTA, 2019). O Buen Vivir é um processo de desmercantilização da natureza em que os elementos da vida como a água jamais podem ser privatizados. Incorpora princípios de origem da sociedade indígena como ajuda recíproca, trabalho coletivo, ritos de coesão social, transferências de valores, fortalecimento de laços comunitários, ausência de desperdício, distribuição dos produtos. Trata-se de uma maneira em que podemos repensar e reconstruir o rural e o urbano e que surge como relevante resposta aos efeitos devastadores do capitalismo que agora ameaçam tudo: sociedade, florestas, clima. O sistema capitalista destrói assim as suas próprias condições de sobrevivência e o Buen Vivir tem que se espalhar como uma nova proposta e um novo paradigma.


Referência

ACOSTA, A. O Buen Vivir: uma oportunidade de imaginar outro mundo, UERJ: 2019.


*Francisco Pontes de Miranda Ferreira é Jornalista (PUC Rio) e Geógrafo (UFRJ) com mestrado em Sociologia e Antropologia (UFRJ), pós graduação em História da Arte (PUC Rio), Doutorando no Programa de Pós-Graduação em Meio Ambiente da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, membro do conselho editorial do Jornal Poiésis. É diretor da Arcalama Serviços de Comunicação (www.arcalama.com.br).

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