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Literatura, um abrigo



Flávia Joss


Quantas leituras impactam nossas vidas? Alguns textos não passam apenas por nós, eles nos afetam. Fazem morada, ficam ali ecoando, tocando nossas emoções e sensações. Na semana passada li o livro O filho de Mil de Homens, do escritor luso-angolano Valter Hugo Mãe e fiquei me perguntando “Por que não li esse livro antes?”


Vivemos tempos tão esquisitos... existem muitos donos “da verdade” e uma disputa ensandecida por ter razão e estar certo. Padrões e mais padrões, caixas de tamanho único e cada um que dê seu jeito de caber ali dentro. Tudo tão egoisticamente cansativo... E eis que surge o livro acima referido, que me abraçou e foi bálsamo. Sua narrativa, cheia de lirismo, conta a história de um pescador que queria ser pai e acaba por adotar um menino, quase adolescente. E a partir desse encontro, uma família muito fora do convencional se forma. Várias pessoas machucadas pela vida experimentam o poder curativo do amor.


Li em três dias. Mergulhei naquela prosa poética, chorei, me emocionei, ri e sonhei. Acho que só a literatura tem o poder de trazer verdades tão profundas de modo tão apaziguador e genuíno. Porque ela não exige para si a razão, está isenta de julgamentos... Como é necessária para iluminar tempos sombrios e mentes em trevas! Não quis fazer um resumo detalhado do livro, quis apenas dividir com você o poder de uma leitura. Talvez minhas breves palavras aqui não tenham sido suficientes para expressar a grandeza dessa leitura. Contudo, que fique a curiosidade, o desejo de também encontrar-se com ela. Dentre tanta beleza literária, vou finalizar com um trecho, um aperitivo para os corações desejosos por um tempo em que amor seja apenas cura.


"Talvez ainda não fosse o dobro de um homem, mas já era, sem dúvida, muito mais do que um homem inteiro. Podia muito mais. Disse-lhe: havemos de compor as coisas. Também eu percebi essa urgência. Mas não quero uma mulher qualquer, alguém ao acaso que me leve e me use. Quero-te a ti. Quero a mulher que fala sozinha com a areia e o mar, a que veio ao meu encontro exato. A Isaura sentiu que estava triste e feliz ao mesmo tempo.

Ela perguntou: podes repetir.

Ele disse: amo-te, Isaura.

Subitamente, metade das coisas pareciam compostas."

(O Filho de Mil Homens, Valter Hugo Mãe)


Flávia Joss (@flaviasjoss_) é escritora, professora de Língua Portuguesa e Literatura, especialista em Gêneros textuais e Interação. Possui cursos de aperfeiçoamento nas áreas de Arte& Espiritualidade, Escrita Criativa

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