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  • jornalpoiesis

Lágrimas do São Francisco

Atualizado: 27 de fev. de 2022



Flávia Joss

“Dorme o Sol à flor do Chico, meio-dia

Tudo esbarra embriagado de seu lume

Dorme Ponte, Pernambuco, Rio, Bahia

Só vigia um ponto negro, o meu ciúme.”


Caetano Veloso



Era apenas um café da manhã numa pousada em Maragogi. Os sotaques traziam uma musicalidade para o ambiente, na mesa ao alado uma família de baianos. Gente simpática, de riso farto e conversa fácil. Não demorou para que eu e minha família fôssemos, gentilmente, inseridos na conversa.


Ele baiano de Salvador, ela, de Juazeiro, mas atualmente reside em uma cidade da Chapada Diamantina, nosso último destino na viagem. Fiz um comentário sobre ter molhado meus pés nas águas do rio São Francisco quando passei por Sergipe. Bastou para que as memórias afetivas da morena nos abraçassem. Sua voz ganhou um tom nostálgico de uma beleza singular.


Rememorou a infância, tempos em que acompanhava a avó para lavar as roupas no Velho Chico e ali, à sua margem, brincava de lavadeira. Falou do sustento que jorra do rio e do respeito por esse “senhor” ... e seus olhos tornaram-se afluentes dele. Recordou os tempos de faculdade e das aulas de balé em Petrolina, cidade Pernambucana separada de Juazeiro pelo rio e unida a ela por uma ponte. Ambas são personagens da música O ciúme, de Caetano Veloso, da qual usei um trecho como epígrafe para esta crônica.


A conversa fez o café se estender por um tempo maior... a coloquei na bagagem e hoje ao abri-la, pude, mais uma vez navegar nas águas da sensibilidade naquela mulher. Naveguei em suas reminiscências e navego também nas minhas.



(janeiro 2022)


Flávia Joss (@flaviasjoss_) é escritora, professora de Língua Portuguesa e Literatura, especialista em Gêneros textuais e Interação. Possui cursos de aperfeiçoamento nas áreas de Arte& Espiritualidade, Escrita Criativa


Foto: Gabriel Tomaz / Unsplash

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