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Judeus no Brasil: contribuições para o território

Atualizado: 9 de jan. de 2022




Francisco Pontes de Miranda Ferreira


A comunidade judaica do Brasil é a segunda maior da América Latina, ficando atrás apenas da Argentina. No Rio de Janeiro são cerca de 30 mil judeus. A história dos judeus no Brasil se remete aos cristãos-novos que vieram no século XVI. No século XIX vários imigrantes judeus chegaram a Belém e Rio de Janeiro. Em 1889, uma outra leva de imigração formou colônias agrícolas no Rio Grande do Sul. Novas imigrações ocorreram a partir da Primeira Guerra com a predominância de judeus chegando da Europa e do Oriente Médio. Nas décadas de 1920 e 1930, desembarcaram no Brasil cerca de 30 mil judeus e mais de 17 mil na década seguinte fugindo da Segunda Guerra e da perseguição nazista e muitos acabaram sendo perseguidos no próprio Brasil pelo Estado Novo.


Estes imigrantes contribuíram muito com sua cultura e diversas habilidades para a formação do Brasil e permanecem de extrema importância. Nas comunidades instaladas no país, implantaram logo escolas, sinagogas, entidades recreativas e culturais, cemitérios e movimentos políticos. Os judeus no Brasil se destacaram nas profissões liberais principalmente como médicos, advogados, engenheiros, músicos, psicanalistas, escritores, professores, jornalistas e editores. Merece destaque especial a participação na construção civil com prédios importantes na história da arquitetura e engenharia do Brasil. Podemos ressaltar alguns judeus que deixaram marcas relevantes no país: Adolfo Bloch, Alberto Dines, Arnaldo Niskier, Beatriz Segal, Bertha Becker, Carlos Scliar, Celso Lafer, César Lattes, Clarice Lispector, Cora Ronái, Daniel Azulay, Debora Bloch, Debora Cocker, Dina Sfat, Eliana Guttman, Franz Krajcberg, Gilberto Dimenstien, Hans Stern, Héctor Barbenco, Henry Sobel, Isaac Karabtchevsky, Israel Klabin, Jacob Gorender, Jaime Lerner, Jorge Mautner, José Lewgoy, José Midlin, Joyce Pascowitch, Juca Chaves, Lasar Segall, Léo Gandelman, Leon Hirszman, Marcelo Gleiser, Moacyr Scliar, Nilton Bonder, Noel Nutels, Olga Benário Prestes, Otto Maria Carpeaux, Paul Singer, Pedro Bloch, Roberto Burle Marx, Samuel Wainer, Vladimir Herzog, Ziembinski e muitos outros. Além disso, judeus formaram o Brasil colonial como cristãos-novos utilizando nomes como Abreu, Aguiar, Almeida, Borges, Carvalho, Chaves, Nogueira, Oliveira, Pereira, Reis, Sá, Veigas e outros.


Trata-se de um povo com tradições culturais muito fortes que também se manifestam no Brasil. Algumas festas e dias importantes são Rosh Hashanah (Ano Novo), Yom Kippur (dia do Perdão), Pessach (Páscoa), Shabbat (Sábado). Seguem o calendário judaico lunissolar que se encontra no ano 5780. O ano novo é celebrado no fim de setembro, durante o chamado mês de Tishrei.


Define-se como música judaica a que se deriva dos antigos cantos litúrgicos há mais de 3 mil anos. Os hebreus expulsos de seu território levaram os cantos sacros para o exílio e, ao longo dos anos, houve importante troca de influências. Durante a Idade Média e o Iluminismo vários músicos judeus se tornaram famosos na Europa como os cantores litúrgicos Salomon Sulzer e Louis Lewandowski. Trata-se de uma cultura musical altamente rica e diversificada. Alguns instrumentos bíblicos presentes nas antigas cerimônias judaicas são utilizados até hoje na música de todo o mundo como a harpa, a lira, tambores, címbalos, trombeta, shofar, alaúde, tamboris, saltério, buzinas, pandeiro, flauta, clarim, cítara. Assim a música judaica hoje abrange a religiosa, semirreligiosa, erudita, jazz, rock e popular. Alguns músicos judeus se destacam no cenário internacional como Gustav Mahler, George Gershwin, Daniel Barenboim, Leonard Bernstein, Lou Reed, Mark Knopfler, Bob Dylan, Benny Goodman, Barbara Streisand e muitos outros. Enfatizamos o Instituto da Música Judaica no Brasil em São Paulo que tem como missão ensinar e divulgar a música do povo judeu com o objetivo de promover a paz.


No cinema ressaltamos alguns cineastas importantes e marcantes no mundo como Woody Allen, Fritz Lang, Mel Brooks, Jerry Lewis, Stanley Kubrick, Oliver Stone, Milos Forman e no Brasil Arnaldo Jabor, Cao Hamburger, Felipe Hirsh, Maurício Sherman, Gilberto Braga e outros.


A dança judaica é uma fusão de estilos próprios e influências regionais. Hoje inspirada em temas tradicionais e religiosos e na dança contemporânea. As danças tradicionais são baseadas nos movimentos do trabalhador rural na lavoura e como pastor. Trata-se de um meio de emitir alegria e os sentimentos de comunidade através das expressões corporais. A dança está sempre presente nas principais comemorações e cerimônias e uma das características são os passos acrobáticos.


A culinária judaica é extremamente rica e geralmente relacionada com as leis do judaísmo milenares e às festas e feriados. Trata-se de uma culinária influenciada por ingredientes locais junto com os tradicionais. Os animais devem ser abatidos ritualmente e salgados para a remoção de traços de sangue. Alguns pratos típicos são: Matzer, Varenike, Golden Youch, Gefite Fish, Kneidlach, Bolo de mel, tabule de Kashe, Kiguel, Kredlach, Klops, Repolho agridoce, Salada de berinjela, Torta de batata. Os sete elementos sagrados são: cevada, trigo, azeitona, figo, romã, tâmara e ervas. A comida é vista como uma aliança entre o sagrado e o profano. Os Ashkenazi provenientes das regiões mais frias consomem mais os peixes salgados e defumados como o arenque. Já os Sefaradi de origem do clima mais quente consomem mais peixes frescos, grãos, noz moscada, gengibre, frutas frescas e secas, amêndoas e verduras – típicos do mediterrâneo. Nas bebidas ressaltamos os chás como o de maçã e o de menta, os sucos de frutas mediterrâneas e de frutas vermelhas. O vinho é muito importante na cultura judaica e os vinhedos são símbolo sagrado. O vinho deve ser consumido nas festas e em cerimônias religiosas. Precisa ser Kosher e supervisionado por um Rabino. A produção principal é das colinas de Golan em Israel. Existem também produções na França, Itália, Estados Unidos e Austrália.


A contribuição dos imigrantes judeus no Brasil para a cultura e a formação econômica, com importante influência em nosso território, é de extrema relevância e ainda muito pouco reconhecida e difundida.


Francisco Pontes de Miranda Ferreira é Jornalista (PUC Rio) e Geógrafo (UFRJ) com mestrado em Sociologia e Antropologia (UFRJ), pós graduação em História da Arte (PUC Rio), pós-graduação em Desenvolvimento Territorial da UERJ Doutorando no Programa de Pós-Graduação em Meio Ambiente da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, membro do conselho editorial do Jornal Poiésis.

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