Jornal Poiésis
Inspiração

Flávia Joss*
Celular desperta. Buzinas de automóveis e sons de escapamento de motos indicam que mais um dia começa. Ligo o computador, verifico algumas mensagens. Tomo um café forte. Ouço os cachorros do vizinho latirem incansáveis, são hiperativos. Home office. Aula online. Meu filho bate na porta. Meu marido esquece alguma coisa. Porta abre, porta fecha. Diante de tão dinâmico cenário, você deve estar se perguntando: Onde buscar inspiração?
Existe uma áurea romântica no que tange o escritor (falo de escritor por motivos óbvios, mas poderia ser qualquer outra vertente da arte), aquele que se isola num lugar calmo e silencioso, e é ali, imerso na solidão, onde ele consegue ficar profundamente inspirado para a sua produção literária. Que sonho!
Estou aprendendo que o cotidiano, em toda sua simplicidade, pode ser profundamente inspirador. Tenho sempre por perto em caderninho e o celular, e se a ideia vem, fica fácil registrar. O exercício de despir a inspiração do véu diáfano que a encobre é diário. Certa vez ouvi alguém dizer que inspiração se soletra disciplina. O ato de sentar e se dedicar à criação com responsabilidade e constância, renova nosso olhar para ver beleza onde ela parece inexistir.
A inspiração não é uma entidade que te possui, não é transcendência, não é uma visitação especial. Pode acontecer de estarmos mais sensíveis em determinados dias, e isso facilita, porém não se deixe aprisionar! Tente, faça, refaça, descanse, retome. O processo criativo é trabalho operário, então, faça como escreveu Bilac em seu poema A um poeta “Trabalha, e teima, e lima, e sofre, e sua!”, porque inspiração é também transpiração.
(10 de agosto de 2020)
*Flávia Joss é Professora de Língua Portuguesa e Literatura, especialista em Gêneros textuais e Interação. Possui cursos de aperfeiçoamento nas áreas de Arte& Espiritualidade, Escrita Criativa e Poesia Falada.