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Green New Deal: uma nova proposta econômica e social para salvar o planeta

Atualizado: 3 de mai. de 2021


Francisco Pontes de Miranda Ferreira



De acordo com o IPCC para conseguirmos reduzir o aumento de temperatura de 1,5C° até 2030, necessitamos diminuir em 45% as emissões de CO2. Fato que exige uma transição energética e uma mudança na estrutura das cidades imediata e radical. Existem alguns grandes desafios para atingirmos essa meta. Um deles é econômico e nos aproxima do keynesianismo que revitalizou a economia dos Estados Unidos após a Grande Depressão, conhecido como New Deal. Trata-se, dessa vez, de um New Deal Verde que é ao mesmo tempo um projeto econômico, social e técnico que visa o enfrentamento da crise climática-ambiental e a construção de justiça social. Inicia-se com a redução da vulnerabilidade dos mais pobres, entendida como a maior causa dos problemas ambientais.

GND já é um movimento internacional e parte da visão complexa e multidimensional que une a questão climática-ambiental com um combate ao modelo civilizatório que é considerado o culpado pela crise. Exige, portanto, uma ruptura radical aos valores estabelecidos pelo sistema atual. De acordo com a Organização Internacional do Trabalho (OIT) (2020) 225 milhões de empregos foram perdidos durante a pandemia. Precisamos assim promover a empregabilidade junto com mudanças tecnológicas. Uma das estratégias é o investimento em energias limpas e na reciclagem. Vencer o sistema que prevê desigualdades e enfatizar nos humanos e não nos lucros. Trata-se a nível global de um investimento nos países periféricos, onde o neoliberalismo atua com mais força. Trata-se de uma discussão e de uma solução política que envolve os conflitos territoriais. O Estado com a mentalidade colonialista precisa ser eliminado e no lugar desenvolver-se um Estado forte e direcionado ao bem-estar social. A economia do descarte, tanto de gente quanto de objetos, tem que ser ultrapassada.

O departamento para assuntos econômicos e sociais das Nações Unidas também está abraçando o GND e estabeleceu alguns princípios: - Energia é elemento chave para o desenvolvimento econômico e a energia renovável chave para um futuro sem as ameaças das mudanças climáticas; - Energia renovável é muito cara, principalmente para os pobres e muitos não têm acesso a qualquer tipo de energia; - Políticas públicas podem produzir o declínio dos preços das energias renováveis e torna-las acessíveis; - O investimento em energias renováveis pode criar um “ciclo virtuoso” com geração de empregos e segurança energética com a redução das emissões; - O programa ganhou o nome de Global Green New Deal (GGND) e deve ser adotado a nível internacional agora.


O movimento acredita que não há conflito entre redução de emissões de gases venenosos e desenvolvimento. Trata-se de um desafio comum em que os países mais ricos devem investir na periferia. Uma das prioridades é a conservação florestal e a construção de edificações de baixo carbono. A academia tem uma papel extremamente relevante na promoção de novas tecnologias alternativas, na formação de profissionais para essa nova demanda e na aproximação com as comunidades mais pobres (ONU, 2009). O princípio defendido pelo movimento é que as mudanças climáticas só serão enfrentadas com uma mudança do sistema econômico vigente. Trata-se da construção de uma economia de baixo carbono com a geração de empregos, o enfrentamento direto da pobreza e a implantação de uma democracia participativa. No entanto, não se trata de uma solução apenas tecnológica e sim de um enfrentamento ao neoliberalismo e às desigualdades sociais. A prioridade máxima é o pleno emprego, acesso à saúde e ao saneamento para todos e segurança alimentar. Ao contrário da visão clássica que argumenta que o dinheiro tem origem externa, os articuladores do GND defendem investimentos governamentais (como foi o New Deal de Roosevelt) em alguns programas:

- Saúde e saneamento; - Transição energética para fontes não-fósseis; - Habitação popular; - Transporte público; - Cidades resilientes; - Agroecologia.

Estes investimentos vão gerar empregos, desenvolvimento tecnológico alternativo e evitar a inflação com a circulação de dinheiro e a inclusão social.

O Green New Deal (GND) dos Estados Unidos conta com a adesão de importantes intelectuais, como o linguista e cientista político, Noam Chomsky. No período pós-guerra os investimentos governamentais nos Estados Unidos eram 45% superiores aos do início do século XXI e a média inflacionária era de 5% ao ano. Naquele período, as grandes fortunas pagavam 45% mais taxas do que hoje. O ponto de partida do GND dos Estados Unidos é, portanto, o combate à pobreza e à crise ambiental através de uma força-tarefa para os próximos 10 anos totalmente direcionada ao combate das injustiças sociais com a criação de pelo menos 20 milhões de empregos bem renumerados e sindicalizados, a construção de 7,4 milhões de residências com tecnologias de baixo carbono, a transição da agricultura para orgânica e altos investimentos no transporte público com energia limpa. Para os teóricos do GND, a principal causa da crise ambiental são os hábitos de consumo da elite e apenas 90 corporações multinacionais são responsáveis por 2/3 da emissão de CO2 no planeta. Estas mesmas empresas criam lobbies para a aprovação de leis com menos restrições ambientais e diminuição dos direitos trabalhistas e promovem a desinformação generalizada na população (GALVIN e HEALY, 2020).

Referências GALVIN, R. e HEALY, N. Green New Deal in the United States: what it is and how to pay for it in Elsevier 67, 2020. A GLOBAL NEW DEAL FOR ENERGY AND DEVELOPMENT – UN DEPARTMENT OF ECONOMIC AND SOCIAL AFFAIRS, 2009.


*Francisco Pontes de Miranda Ferreira é Jornalista (PUC Rio) e Geógrafo (UFRJ) com mestrado em Sociologia e Antropologia (UFRJ), pós graduação em História da Arte (PUC Rio), Doutorando no Programa de Pós-Graduação em Meio Ambiente da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, membro do conselho editorial do Jornal Poiésis. É diretor da Arcalama Serviços de Comunicação.

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