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FUMAÇA

Braz Chediak
(Foto: Denis Chick/Unsplash)
O trem sempre foi para mim um símbolo de esperanças e de tristeza.
De esperança porque via as partidas, o adeus dos que buscavam a luz fora daquele pequeno e insignificante universo em que viviamos.
De tristeza porque, criança ainda, via as poucas pessoas que chegavam, trazendo novidades de um mundo que me fascinava, mas estava muito distante de mim.
Na música “Encontro e Despedidas”, Milton Nascimento e Fernando Brant, dizem que...
“Todos os dias é um vai-e-vem
A vida se repete na estação
Tem gente que chega pra ficar
Tem gente que vai pra nunca mais
Tem gente que vem e quer voltar
Tem gente que vai e quer ficar
Tem gente que veio só olhar
Tem gente a sorrir e a chorar
E assim, chegar e partir
São só…”.
Nas frases dos compositores, a repetição da vida se confunde com o nascimento da poesia. Uma transformação do simples ao universal/infinito.
Para mim, apenas uma constatação de um tempo que só resta na lembrança, e as lembranças são mutantes. Como é mutante o que sentimos quando “tem gente que chega para ficar”: talvez um grande amor, talvez uma amizade, talvez uma ternura passageira.
Quanto “Tem gente que vai...” e deixa em seu lugar um vazio tão grande quanto os trilhos de uma locomotiva que sumiu na curva e dela não vemos senão a fumaça que, também, pouco a pouco vai sumindo... sumindo...
Como somem os devaneios.
Como some a crônica!