Jornal Poiésis
Florais de Bach e o dom de ser capaz, de ser feliz

Camilo Mota
O uso dos Florais de Bach como terapia integrativa e complementar tem ganhado cada vez mais visibilidade, contribuindo para que mais pessoas se aproximem dessa proposta terapêutica criada pelo Dr. Edward Bach (1886- 1936) e que tem entre seus objetivos básicos levar o indivíduo a uma melhor compreensão de si mesmo e a se tornar ciente de seu propósito de vida, de sua determinação na matriz da existência.
Atualmente, ao entrar em farmácias de manipulação, já encontramos nas prateleiras até mesmo os buquês (fórmulas) prontas, indicando alguma finalidade mais imediata, como tratamento de ansiedade, auxílio para estudo e concentração, combate ao tabagismo, etc. Isso realmente facilita o contato inicial da pessoa com o universo amplo que a terapia floral pode descortinar, principalmente porque se apresenta dentro de um paradigma ao qual a população em geral está, de certa forma, mais acostumada, ou seja, encontrar algum alívio para eliminar os sintomas que a incomodam.
No entanto, gostaria de abordar neste breve texto alguns aspectos que fundamentam o propósito do uso de florais de acordo com as orientações deixadas pelo criador do sistema, e que estão posicionados bem além de uma visão apenas mercadológica, consumista ou paliativa.
A terapia floral não segue o modelo cientificista que predomina no campo da saúde, portanto não corresponde a uma terapia de causa e efeito. Isso quer dizer que, ao tomar as gotas de um buquê, a pessoa não terá uma alteração funcional em seu organismo, como acontece com o uso de medicações de formulação química, como os ansiolíticos e antidepressivos. Estes agem diretamente no sistema nervoso central, fazendo a modulação neuroquímica que afetará diretamente o corpo, as emoções, o comportamento, promovendo, muitas vezes, o alívio imediato dos sintomas.
Já os florais não contêm uma formulação química propriamente dita. Seu princípio se baseia na ressonância que há entre o inconsciente (incluindo-se neste contexto os aspectos de transcendência, a percepção do sagrado ou da alma enquanto arquétipo daquilo que está além do campo puramente materialista), o consciente (no sentido de se auto perceber e de formular significado para a própria existência, compreendendo-se aqui a relação entre a realidade material e a espiritual), e a natureza enquanto modelo de equilíbrio, de harmonia, de sinergia.
Segundo o Dr. Bach, quando o indivíduo encontra em si mesmo uma falha, quando reconhece em si o efeito negativo de uma emoção ou de um processo que se assemelha a uma emoção, ele tem a oportunidade de agir no sentido de modificar esse movimento através de virtudes que compõem a sua própria natureza interior. Ou seja, é um convite a assumir a responsabilidade sobre seus próprios atos, palavras e escolhas. Ainda segundo o criador deste sistema floral, o foco do tratamento não se dá na observação dos aspectos negativos em si mesmos, mas no fortalecimento das porções positivas que podem ser estimuladas através de um contato mais profundo com a natureza espiritual da pessoa. Aqui, entenda-se por espiritual a capacidade humana de transcendência, de se perceber como uma alma vivente, que possui uma consciência interna que a leva a um caminho em que poderá realizar o seu propósito de vida.
Cada pessoa portanto, como diz a canção de Almir Sater, “carrega em si o dom de ser capaz, de ser feliz”. O floral, em cada gotinha que é pingada dentro da boca, carrega as informações contidas na natureza para que a pessoa entre em harmonia com o seu próprio estado de alma. Fazendo uma comparação, poderíamos dizer o seguinte. Quando usamos um óleo essencial num difusor de aromas, o odor é capturado através do olfato e a informação provoca uma série de reações de harmonia que são processadas pelo cérebro. Algumas dessas reações são percebidas de imediato, como a sensação de bem estar e de relaxamento, ou de excitação, dependendo da essência utilizada. Mas boa parte daquilo que está sendo percebido sensorialmente foge do campo da consciência e está ligado muito mais ao inconsciente e a uma imagem arquetípica que cada um de nós carrega em relação ao que é o nosso sentido de unidade, de união com algo maior ao qual todos pertencemos (a natureza, Deus, ou o significado maior que você possa conceber dentro de seu esquema mental de representações).
Então, da mesma forma, os florais agem como um componente que traz através do contato com as gotas do buquê a sensação interna de unidade entre o Eu e aquilo que vem representado pelo floral. Por exemplo, quando percebemos em nós uma dificuldade de escolha, quando nos deparamos com uma dúvida que nos impede de tomar uma decisão entre duas coisas específicas. Em certas situações, essa dúvida pode gerar um grande desconforto e mesmo paralisar a pessoa, impedindo-a de seguir adiante em seu processo de vida. Quando ela percebe que isto está acontecendo, ela pode fazer uso de um floral (no caso o Scleranthus), que trará para sua consciência os elementos necessários para que ela desenvolva a determinação para a tomada de decisões de forma objetiva, analítica e racional. Assim como no caso do aroma citado no parágrafo anterior, a informação contida no floral irá ativar áreas nos campos do inconsciente e do consciente da pessoa de forma que ela se perceba mais apta a agir de forma proativa em seu dia a dia. Esse fenômeno é o que chamamos aqui de ressonância, ou seja, a combinação harmoniosa de duas vibrações afins, que são o desejo da alma de estar em harmonia e a informação de sinergia que a flor traz como aspecto ativador do processo, e que têm como intermediária a consciência, o sujeito que consegue se observar e fazer suas escolhas com base naquilo que lhe trará satisfação por estar compondo o seu propósito de vida, de realização do self (si mesmo).
Portanto, a terapia floral se baseia na harmonização do indivíduo com a natureza (no sentido de como a percebemos como uma projeção da harmonia divina) e com o sentido que o indivíduo dá à sua própria existência. Para isso, de acordo com o Dr. Bach, a saúde pode ser mantida quando o sujeito está devidamente consciente de sua unidade essencial. Esta unidade envolve o reconhecimento de uma harmonia entre o Eu, a natureza e a transcendência desse eu (o espírito, ou os valores mais elevados da consciência humana).
O adoecimento, portanto, é o resultado de um distanciamento dessa unidade. E quando a unidade se ausenta, surgem os desequilíbrios, que são a crueldade, o ódio, o egoísmo, a ignorância, a instabilidade, a ambição e o orgulho. São estes os elementos negativos que promovem o surgimento de emoções primárias e secundárias (medo, raiva, ciúme, etc.), que por sua vez levam à formação de sintomas. Ao se fazer uso dos florais, que são modulados de acordo com grupos emocionais (medo, indecisão, solidão, etc.), o indivíduo estabelece para si um caminho natural para se alcançar as virtudes opostas que neutralizarão o desequilíbrio e retomarão o conjunto de unidade que se perdera, a saber, compaixão, amor, altruísmo, conhecimento, determinação, colaboração e desprendimento.
Camilo Mota é terapeuta floral, psicanalista, mestre de Reiki, pós graduado em Docência e Prática de Meditação. Faz atendimento em consultório e ministra cursos online e presenciais. Para marcar consultas, entre em contato através do WhatsApp ou celular (22)99770-7322. Mais informações também podem ser obtidas no site www.camilomota.com.br