Jornal Poiésis
Filosofia da Práxis e as territorialidades socioambientais: a contribuição de Gramsci e Freire

Paulo Freire nos chamou a atenção para os oprimidos do capitalismo periférico. Antônio Gramsci, por sua vez, ressaltou o perigo do fascismo que ameaçava os operários italianos no início do século XX. Nos dois casos, o Capital e o Estado são colocados como responsáveis pelo exercício da coerção e da persuasão. Freire desenvolveu como resposta a pedagogia libertadora e Gramsci a reflexão e a ação com estratégias essenciais. Podemos identificar em comum entre os dois pensadores o amor pelos oprimidos. Os dois autores enxergam a educação como fator de transformação social que deve partir da construção de uma consciência crítica e política. O território (meio) é assim educador e deve também ser educado. Marx já afirmava da necessidade do educador ser educado e que as mudanças das atividades humanas exigem a transformação do próprio homem. Estamos, portanto, partindo da necessidade da promoção de uma práxis revolucionária.
Nesta visão, partimos do princípio que o educador e o pesquisador científico devem levar em consideração o contexto social e cultural que encontram no território que vão atuar. O processo científico e pedagógico começa assim pelo meio (território). O oprimido deve ser incentivado a ler o seu próprio mundo. Identificar a situação de dominados e dominadores presentes no seu contexto histórico e territorial. Para que possa finalmente tornar-se mestre do seu próprio destino.
Gramsci enfatizou a densidade histórica e política presente na vida das pessoas. Destacando assim o peso histórico e cultural. Defendeu a necessidade da construção da consciência política para as pessoas se libertarem da opressão. Visando, portanto, a humanização de tudo. A consciência de si e da realidade dá ao oprimido a coragem necessária para a transformação de seu meio social e territorial, Formar o cidadão para a capacidade de governar. Até agora predomina uma consciência, por parte do oprimido, moldada pela concepção de mundo do opressor. Relacionada aos interesses deste opressor. A educação pode ser assim uma força libertadora do oprimido. Tanto libertação como educação são práticas (práxis) comunitárias. Paulo Freire defendeu a libertação da educação “bancária” (vertical) que se inicia com a promoção do diálogo. Principalmente, respeitando-se que o educando possui toda uma história de vida. A sua própria síntese cultural é o principal caminho para a construção da colaboração e da solidariedade. Gramsci defendeu os “Círculos de Cultura” - espaços onde se produz uma nova cultura a partir da concepção de mundo dos dominados. Ressaltou a necessidade de substituirmos a escola capitalista, dominada pelo Estado e a Igreja.
Tanto Gramsci como Freire defendem uma práxis que parte da Maiêutica – a arte de fazer o saber ir à luz. Os Círculos de Cultura promovem isso dentro dos conselhos. Freire trabalha os Círculos de Cultura como espaços para a construção de uma nova concepção de mundo, para a conquista da liberdade. Produzir assim a reforma intelectual e política humana. Espaços para a problematização do saber a partir do conhecimento existente na própria comunidade. Enfrentando-se a noção de poder hegemônico que significa poder do guia supremo, do comandante, do general ou do Estado. Assim tanto Gramsci como Freire optam pela formação (práxis) de uma consciência crítica e coletiva para enfrentar esta hegemonia. Preparar as massas operárias e oprimidas para o exercício da hegemonia cultural e política. A práxis necessária envolve, portanto, reflexão e ação.
Referências
FREIRE, P. Educação como Prática da Liberdade. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1976.
FREIRE, P. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1977.
GRAMSCI, A. Cadernos do Cárcere…
*Francisco Pontes de Miranda Ferreira é Jornalista (PUC Rio) e Geógrafo (UFRJ) com mestrado em Sociologia e Antropologia (UFRJ) e pós-graduação em História da Arte (PUC Rio), membro do conselho editorial do Jornal Poiésis.