Jornal Poiésis
Expectativa e realidade

Flávia Joss*
A chegada de um novo ano sempre vem acompanhada de promessas de mudanças e isso é ótimo. Os últimos dias do ano velho são centelhas de esperança para os primeiros que batem à porta. Mas.... e quando esses dias não são tão bons assim?
Contrariando o ditado, eu diria que comecei o ano com o pé esquerdo. Aliás, se eu me espelhasse em minha última semana de 2020, poderia dizer, sem sombra de dúvida, que aquela luz no fim do túnel é um trem pronto a me atropelar. Ponho diante de você, leitor, meus dias finais do último dezembro.
Como já mencionei em outra crônica, escrevi um livro e estava animadíssima com a ideia de realizar o lançamento no dia do meu aniversário, 15 de janeiro. Sei que estamos em pandemia, porém consegui um espaço aberto e respeitaria os protocolos de segurança. Eu já tinha tudo planejado quando minha editora me enviou uma mensagem dizendo que o livro não chegaria dentro do prazo. Fiquei tristíssima... A ideia de comemorar um duplo nascimento caiu por terra. Primeiro desapontamento do ano.
“Um belo dia resolvi mudar...” inspirada por Rita Lee e pela célebre frase “Nada muda se você não mudar”, agendei um horário no salão de beleza, queria deixar os cabelos mais claros, dar uma iluminada no visual. Depois de gastar uma grana considerável e um longo tempo, meu cabelo começou a cair, a cabeleireira entrou em pânico. Eu tentava manter a calma. Vi o que restou dos meus cachos pelo chão, quanto mais ela penteava, mais o cabelo louro, estilo Kátia Flávia (personagem de uma música dos anos 80) caia. Para aplacar minha suposta raiva ainda contida, a profissional não me cobrou o corte (ele não estava em meus planos) e me deu um reconstrutor capilar. Passada algumas horas após o fatídico episódio, ela me ligou pedindo novas desculpas. Fiquei mal por sua culpa, ela cuida das minhas madeixas há anos... Fiz uma busca na internet por algo que “consertasse” meu cabelo e melhorasse minha abalada autoestima, me deparei com as tranças box braids. Um encanto! Não pensei muito, fui a outro salão e agendei a colocação. Mais dinheiro para investir. Mandei um áudio para a minha cabeleireira, assim como quem não quer nada, avisando que iria colocar as tranças, ela me devolveu o dinheiro gasto e salvou meu dia. O bolso agradeceu.
Não quis esperar o dia 1º de janeiro para retomar minha vida fitness, aproveitei a última semana de dezembro, pra que deixar para depois o que se pode fazer hoje? Coloquei minha roupa, calcei meu tênis me lancei na estrada. Já fazia um tempo que não usava o tênis, durante a caminhada senti um incômodo, tive que diminuir a passada e a quantidade de voltas. Ao chegar em casa verifiquei que meus pés estavam cheios de calos. Precisei abandonar o projeto saúde por uns dias até comprar tênis novos.
E assim inicio 2021, se você está pensando que fiquei descrente, se enganou. O livro chegará depois do meu aniversário, troquei um cabelo cacheado com mechas por tranças e voltei a caminhar com meu novo par de tênis. A vida segue... os dias recomeçam e as expectativas se renovam. Sempre haverá uma pedra no meio do caminho, uma rosa com espinho e um plano B para aqueles que sabem que viver também é sair do trilho.
*Flávia Joss é Professora de Língua Portuguesa e Literatura, especialista em Gêneros textuais e Interação. Possui cursos de aperfeiçoamento nas áreas de Arte& Espiritualidade, Escrita Criativa e Poesia Falada.