- jornalpoiesis
Essa matéria

Nestor Alonso
Essa matéria que se dissolve em tudo
mesmo as pedras aguardam a sua dissolução à distancia
era o cadente
o beijado e acariciado entre sensações,
mas quando nos abraçávamos
sentíamos que estávamos assegurando uma coisa mais íntima
e impronunciável, uma coisa fértil como uma terra
onde o amor afunda suas raízes, e onde ele
eleva-se até seus ramos, às suas folhas
e os seus frutos. Essa matéria, que era nossa
fundida num único brilho, único voo,
na travessia tem perdido uma asa, um lado,
e isso é o que dói: essa metade, caída à terra
que ainda me contém, e algo inominável
que só pode ser revelado porque uma vez
nós coincidimos miraculosamente num tempo e num lugar.
Eu a vejo em mim como alguém que olha para um retrato
só posso te seguir até aí, você soltou a minha mão
de sinos quase inaudíveis,
pegadas cobertas pelo vento e pela areia
nossa sombra, desfeita nos espelhos,
nossa imagem dissolvida
sob a luz de um amanhecer que não vemos,
algum vidro levemente embaçado.
Nestor Alonso é poeta argentino, mora em Mar Del Plata. O poema acima faz parte do livro Canto Gregoriano (Editorial Martin – 2015). Tradução: Sergio Gioliodibari