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Ecologia Política: por uma política mais ativa e forte
Atualizado: 11 de fev.

Francisco Pontes de Miranda Ferreira
As questões ambientais são políticas e definidas nas relações sociais. Hoje marcadas por uma crise generalizada. A Ecologia Política vem se debruçando na construção de novas análises sociais e identificando novas formas de solidariedade que estão surgindo em várias comunidades. A Ecologia Política tem como um dos seus desafios contestar a tecnoburocracia existente e refletir sobre os conceitos de democracia e justiça ambiental, focando-se na questão dos direitos humanos. Enfrentar assim a estetização da política provocada pela mídia e que possui cada vez mais características próximas do fascismo. Fica assim evidente que o avanço do capital não vem trazendo benefícios para a maioria da humanidade, especialmente para os trabalhadores, em que a exploração da natureza é muito semelhante à exploração do proletariado. Mas, surgem alternativas ao modelo do avanço do capital e territórios de resistência e de imaginação surgem (ALIMONDA, 2002).
O modelo global de mercado provoca muita insegurança, pobreza e exclusão em que a Ecologia Política necessita tornar-se mais ativa e conhecida. A principal preocupação é compreendermos como os mecanismos políticos e econômicos geram desequilíbrios socioambientais graves e como isso pode ser modificado.
A passagem da ciência à ecologia política introduz questões que dizem respeito ao sentido do que fazemos, levando a uma série de outras perguntas: em que medida nossa organização social, a maneira como produzimos e consumimos, modifica o meio ambiente? E mais precisamente, como pensar a combinação, a interpenetração, a disposição desses diversos fatores nas ações sobre o meio ambiente? Serão favoráveis os efeitos dessas modificações sobre os indivíduos? Desfavoráveis? A ecologia científica nos diz quais são os efeitos de nossos comportamentos e práticas; ela nos esclarece a respeito do que está em jogo. No entanto, cabe-nos, a nós homens, escolher o modo de desenvolvimento que desejamos, em função de valores que evoluem no curso de debates públicos (LIPIETZ, 2002: 22).
A Ecologia Política questiona o funcionamento de nossa sociedade industrial e global e a própria cultura ocidental que se espalhou pelo mundo. A Ecologia Política admite que chagamos a um limite insuportável na nossa relação com a natureza, na qual o desenvolvimento técnico não provocou a esperada emancipação humana e, pelo contrário, aumentou a vulnerabilidade de vários grupos sociais e os riscos ambientais. Não podemos, portanto, conviver com uma sociedade em que a política se encontra debilitada para o enfrentamento dessa situação e que não tenha o poder de desafiar os rumos de um modelo econômico devastador (LIPIETZ, 2002).
Uma sociedade sem projeto político, entregue às forças do mercado e sugada pela espiral do "produzir cada vez mais" só pode levar ao crescimento das desigualdades sociais e das crises ecológicas. É urgente, portanto, dar novamente sentido e conteúdo à política.
Temos que reavaliar nossas necessidades, fato que exige o debate e o ato político. No território os mais pobres são os que menos consomem e poluem e, entretanto, os que mais convivem com a falta de saneamento básico e com a poluição. Apenas, através da instância política, podemos reverter esse quadro, intensificado pelo neoliberalismo nos últimos anos (LIPIETZ, 2002).
Referências
ALIMONDA, H. Política, Utopia, Naturaleza in ALIMONDA, H. (ORG.) Ecologia Política: naturaleza, sociedade y utopia. Buenos Aires: CLASCO, 2002. p. 9-18. 392p.
LIPIETZ, A. A Ecologia Política, solução para a crise da instância política? In ALIMONDA, H. (ORG.) Ecologia Política: naturaleza, sociedade y utopia. Buenos Aires: CLASCO, 2002. p. 20-35. 392p
Francisco Pontes de Miranda Ferreira é Jornalista (PUC Rio) e Geógrafo (UFRJ) com mestrado em Sociologia e Antropologia (UFRJ), pós graduação em História da Arte (PUC Rio), pós-graduação em Desenvolvimento Territorial da UERJ Doutorando no Programa de Pós-Graduação em Meio Ambiente da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, membro do conselho editorial do Jornal Poiésis.