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DEVIR PÁSSARO

Atualizado: 6 de dez. de 2021



Camilo Mota "Minha terra tem palmeiras, onde canta o sabiá", escreveu Gonçalves Dias. Por que gorjeia o passarinho? O que vibra quando seu bico se abre e no ar viaja um som inconfundível? Essas perguntas retomam minhas reflexões sobre o processo de sintonia que há entre homem e natureza, em sua relação de mútua existência, de simultânea vibração. Por isso penso no devir pássaro, assim como tantas outras linhas que podemos desenvolver nesse processo simbiótico. A vida é intensa e se move. O corpo se move e é intenso. O devir pássaro me coloca como um xamã que vem conversar com o Todo e se pergunta diante do som que flui no ar: por que canta o sabiá? E a resposta sopra no vento, como diria Dylan. O pássaro canta a vida que nele flui, a intensidade que nele penetra e sai. E voa. Passarinhos voam e cantam, e melhor voam e cantam quando se preenchem de liberdade. Passarinhos não deitam. Descansam sobre as pernas e o tronco, mas não se deixam cair de lado a dormir. Não deitam, porque preferem a vida à morte. Quando deixam de cantar, quando não há mais fôlego e amor, aí sim, se compõem com a terra. Mas antes, é o ar que lhes move o peito. Um devir ave, um devir sabiá! Apenas isso para dizer hoje.


Camilo Mota é editor do Jornal Poiésis, escritor, psicanalista, membro da Academia Araruamense de Letras.

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