Jornal Poiésis
Desmantelamento do movimento operário nos EUA e novas resistências

Francisco Pontes de Miranda Ferreira*
As lutas proletárias do século XX foram as principais alavancas para o capitalismo entrar em crise e ter sido forçado a modificar. Lutas operárias, estudantis, conquistas das mulheres, do movimento afrodescendente e muitos outros impulsionaram as modificações. Os Estados Unidos possuem uma história muito forte em relação aos movimentos operários que se manifestam até hoje. No entanto, o movimento operário dos Estados Unidos vem sendo massacrado há muitos anos. País que já teve um expressivo movimento operário e sindical com uma poderosa imprensa popular que chegou a defender que os empreendimentos produtivos deveriam pertencer aos próprios trabalhadores.
Os Estados Unidos têm uma violenta história de repressões contra os movimentos operários e praticamente todos os direitos sociais adquiridos nos Estados Unidos foram fruto das lutas operárias. Comemoramos em todo o mundo o dia do trabalho e o dia da mulher em homenagem a lutas operárias que foram altamente reprimidas, ocorridas nos Estados Unidos durante o século XX.
Após a Primeira Guerra Mundial inicia-se nos Estados Unidos forte política para desmantelar os movimentos operários, muito semelhante ao que acontece hoje com as políticas neoliberais. Trata-se da racionalização dos negócios com o total apoio do governo em que o grande articulador e mandante é o setor corporativo formado pelas grandes empresas.
Logo no início do século XX, as grandes corporações perceberam que não bastava a violência e passaram a investir em sofisticados meios de propaganda e de despolitização. Processo que perde um pouco de força durante a Segunda Guerra, mas que depois retorna com mais força ainda. Foram altos investimentos nos meios de comunicação de massa direcionados especialmente para as fábricas, escolas e igrejas. Além disso, vários acordos internacionais são propostos como o NAFTA que provocou altos danos às classes trabalhadoras de todos os países envolvidos. Os Estados Unidos vêm concentrando políticas e estratégias de comunicação massivas, desde o início do século XX, para enfraquecer os movimentos operários e a classe trabalhadora como um todo. Com golpes para reduzir a força dos sindicatos.
Hoje esta parceria entre as grandes corporações e o governo fica mais acirrada provocando uma marcante diminuição da qualidade de vida dos trabalhadores, além do desemprego e da piora das condições de trabalho. No entanto, ainda vemos vários movimentos ativos nos Estados Unidos e novas revoltas podem irromper a qualquer momento.
No país mais forte do capitalismo encontramos partidos de resistência importantes. Os Estados Unidos não é uma nação tão conservadora e polarizada como parece e é divulgado pela grande imprensa. 82% dos cidadãos acreditam que os ricos têm influência perigosa e demasiada; 2/3 são a favor de um controle maior das armas; 69% defendem uma política ambiental mais firme e 82% acham que as grandes empresas deveriam pagar mais impostos. Menos de 1/3 acham a economia dos EUA justa. Manifestações por reformas econômicas, contra o racismo e a repressão e violência policial, a favor da restrição às armas, contra impactos ambientais levam diariamente milhões de norte-americanos às ruas (Lappé, F. M. The Nation: 26/4/2018).
Estudantes dos EUA estão se tornando movimento político importante. Como exemplo a luta pelo desarmamento após um massacre numa escola da Florida liderada pela jovem Noami Wadler. Protestos ocuparam as ruas de várias cidades desde março de 2018, com participação de influentes artistas do rock e do cinema. Noami em seus discursos denuncia abertamente a enorme quantidade de dinheiro que a indústria armamentista investe nas campanhas dos candidatos de direita. Assunto que se torna cada vez mais constantes nas salas de aula dos EUA tem sido a disparidade da distribuição de renda no país em que 20% dos mais ricos possuem 84% das riquezas e os 40% mais pobres menos de 1%. Na greve de professores no início de 2018 em Oklahoma, Kentucky e West Virginia um dos assuntos em destaque foi a necessidade do fortalecimento dos movimentos de raiz e de estudantes.
O Partido Comunista dos Estados Unidos foi fundado em 1919 e continua ativo com crescimento entre os jovens nos últimos anos. Nos anos 1950 passou por um período de ilegalidade. O lema do Partido é “People and Planet before Profits”. O líder, John Bachtell, afirma que “o partido tem que se juntar às lutas democráticas dos EUA” e cita como exemplo os movimentos por direitos civis dos anos 1960. Defende a resistência pacífica como fonte importante de luta e enfatiza o marxismo como essencial instrumento. Bachtell ressalta que a raiz dos grandes problemas socais e ambientais é o capitalismo. Sistema, que segundo ele, serve aos interesses das grandes empresas. O partido vem se aproximando do Partido Comunista da China promovendo encontros e parcerias acadêmicas entre os dois países (www.cpusa.org).
O Partido Socialista dos Estados Unidos tem uma linha ecos socialista que defende a estreita aproximação entre produtores e consumidores, eliminando as grandes empresas. Critica o modo de produção capitalista baseado no consumo de massa e no crescimento econômico, responsável pelo desiquilíbrio ecológico. “A resistência ao capital tem que ser construída nas comunidades mais afetadas pela exploração, as mais próximas do limite do capitalismo. Comunidades pobres de afro americanos formam uma força eco socialista revolucionária e os movimentos sociais devem ganhar a raiz nestas áreas”, afirma documento do partida (www.thesocialistas.org)
*Francisco Pontes de Miranda Ferreira é Jornalista (PUC Rio) e Geógrafo (UFRJ) com mestrado em Sociologia e Antropologia (UFRJ), pós graduação em História da Arte (PUC Rio), Doutorando no Programa de Pós-Graduação em Meio Ambiente da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, membro do conselho editorial do Jornal Poiésis. É diretor da Arcalama Serviços de Comunicação (www.arcalama.com.br)