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  • Foto do escritorJornal Poiésis

Desigualdades territoriais, saneamento e saúde


Francisco Pontes de Miranda Ferreira


No período de ascensão da Revolução Industrial, em 1842, Edwin Chadwick, pesquisador da área de saúde, escreveu um relatório chamado “Report on the Sanitary Conditions of the Labouring Poor”. Texto que influenciou Engels e se tornou referência sobre as desigualdades na área do saneamento e injustiças sociais.

Embora as expectativas de vida tenham praticamente dobrado desde o relatório de Chadwick, as desigualdades continuam de acordo com o censo britânico de 2010-12. Fato que demonstra como o saneamento é ainda um dos pontos de referência mais marcantes quando apontamos diferenças das territorialidades socioambientais. O relatório demonstra bem a associação entre condições de saneamento e saúde da população mais pobre. Graças ao relatório de Chadwick, ocorreu o Public Health Act de 1848 em que o governo britânico realizou um dos mais altos investimentos na área de saneamento da história que resultaram logo na queda de doenças, principalmente as de origem hídrica como a cólera, na população desfavorecida.

O relatório demonstrou que existe menor expectativa de vida nos territórios com carência de condições sanitárias. O trabalho de Chedwick revelou a relação direta das doenças com a falta de acesso à água limpa, poluentes industriais e deficiências no sistema de esgoto. O relatório apontou a problemática existente nos aglomerados urbanos das cidades industriais vitorianas e apontou um aumento de doenças em comparação às áreas com menor aglomeração. O censo de 2010-12 provou que a quantidade de mortes prematuras no Reino Unido hoje continua relacionada com territórios com carências sanitárias. Em algumas comunidades pobres a mortalidade prematura (abaixo dos 74 anos) apresentou ser duas a três vezes maior do que nas áreas mais privilegiadas. A pesquisa baseada no censo de 2010-12 concluiu que além das diferenças territoriais existentes desde a Revolução Industrial, são as mesmas localidades daquela época que continuam com deficiências e com menos recursos e serviços. Ou seja, as políticas públicas continuam reproduzindo as diferenças territoriais e sociais de cerca de 200 anos atrás.

No Brasil, temos certeza que a situação é muito semelhante e que um estudo semelhante provaria isso, sendo as deficiências muito maiores e as diferenças ainda mais extremas. Qualquer território onde residem os mais pobres notamos logo problemas de saneamento graves como acúmulo de lixo, esgoto a céu aberto, falta de drenagem e deficiências no abastecimento de água. Muitas dessas comunidade próximas também dos resíduos industriais. Realidade que vai refletir diretamente na saúde da população. Um dos pontos de partida para traçarmos uma política de saneamento, que pode ser aplicado em territórios de bacias hidrográficas, é um relatório relacionando problemas de saúde com estruturas de saneamento presentes. Áreas prioritárias seriam então apontadas. Utilizando-se um critério social.

Referência GREEN, M.A., DORLING, D. e MITCHELL, R. Chadwick´s Seminal work on Geographical Inequalities by Occupation in Elsevier – Social Sciences $ Medicine 197, 2018.

*Francisco Pontes de Miranda Ferreira é Jornalista (PUC Rio) e Geógrafo (UFRJ) com mestrado em Sociologia e Antropologia (UFRJ), pós graduação em História da Arte (PUC Rio), Doutorando no Programa de Pós-Graduação em Meio Ambiente da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, membro do conselho editorial do Jornal Poiésis. É diretor da Arcalama Serviços de Comunicação.

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