Jornal Poiésis
Desejos meus ou do padre?
Atualizado: 20 de jul. de 2020

Matheus Fernando*
Duvidaram do padre ao perguntarem
Se é possível o homem viver só.
O padre convicto de seu credo
Dizendo que veio do pó.
Recitando os mandamentos de cor
Falou que a suficiência da solitude e a presença de Deus
Dispensa a presença de qualquer outro amor que poderia haver por perto.
Ouvindo a conversa de longe eu disse, e logo chegando perto:
“Seu padre, não é por nada não,
Mas no início da criação,
Era Deus a tal solitude, e Adão!
Certo?”
E ele disse:
“Correto!”
E eu emendei dizendo se
Não fora o próprio Deus que,
“vendo Ele que o homem estava só”*
Decidiu criar a tal da Eva animando aquele forró?
O padre coçou a cabeça,
Viu que todos ao redor o olhavam
Começou a ficar pálido, pensativo
Sentou. Olhou para o chão.
“Eva. Serpente. Éden. Forró. Adão.”
Pensei eu:
“Senhor, o que foi que eu fiz?
Velei a inocência do padre
Depois de tantos anos suprimindo ele os seus desejos em busca da tal santidade.”
Logo em seguida vi o padre pela primeira vez por as mãos no bolso.
E caminhar pensativo para casa.
Teria eu tornado o padre rebelde?
Seriam aquelas mãos no bolso um ato fálico?
Teria eu dado ao padre um final trágico?
Que gosto teria aquela dúvida no paladar daquele padre clássico?
Mel? Fel?
Meu DEUS!
Será que eu vou para o inferno por, quem sabe, ter tirado aquele padre do céu?”
NOTA
*(Gn 2.18)
Matheus Fernando é aluno de graduação em Psicologia na Universidade Federal Fluminense. É escritor que transita entre gêneros literários como poesia, crônica, conto, peça, ensaio e artigo.
matheusfernando.contato@gmail.com