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Cronistas do Território: o exemplo de Benjamin Costallat
Atualizado: 12 de dez. de 2021

Francisco Pontes de Miranda Ferreira
O trabalho literário em vários casos, aproxima-se muito da descrição do território realizada por cientistas sociais e as obras literárias são fonte importante para os pesquisadores compreenderem melhor os movimentos do espaço geográfico. Destacamos o cronista Benjamin Costallat que nos anos 1920 descreveu o território da cidade do Rio de Janeiro, apontando as contradições do processo de modernização da Capital e a sua inserção no mundo urbano e industrial, tendo como modelo Paris. Costallat atentou-se para o submundo e a periferia que se contrastava com o processo de modernização que, justamente, disfarçava e apartava este outro lado da cidade. O cronista agiu como outros escritores do território do Rio de Janeiro, que também descreviam as contradições, comportamentos alternativos e formas de sobrevivência dos excluídos, como João do Rio, Lima Barreto e Aluísio de Azevedo.
Em suas crônicas, Costallat, em contradição à sua origem burguesa, aos anos que viveu em Paris e à sua formação em Direito, debruçou-se no mundo das favelas. Assim trabalhou o outro lado da modernidade em obras como “Luz Vermelha” e “Mademoiselle Cinema”: censurado por chocar a sociedade retrógrada e conservadora e considerado pornográfico, mas que acabou tornando-se best seller da época, inaugurando uma espécie de contracultura dentro da própria elite. Costallat aproxima-se muito do que os pesquisadores socio-territoriais realizam. Ele fazia trabalhos de campo, entrevistas e convivia com os personagens de uma maneira muito próxima da etnografia e da antropologia. Assim descreveu sanatórios, locais de jogos clandestinos, exploração de mão-de-obra e rituais afro-brasileiros. Teve uma coluna na imprensa chamada de “Mistérios do Rio” e afirmou então que apesar de realizar literatura, todos os ambientes que descrevia eram verdadeiros.
Costallat para quem trabalha com análises sociais do território é um exemplo da importância das obras literárias para a ciência: tanto no sentido de nos fornecer descrições riquíssimas do território e da sociedade quanto como modelo da relevância do trabalho de campo etnográfico que mergulha na realidade socioambiental das localidades e, finalmente, trata-se também de uma preocupação com a voz para os excluídos e a descrição de realidades muitas vezes camufladas pelos processos de modernização urbana.
Fonte: Cronistas do Rio: Canal Multirio, 2015.
http://www.multirio.rj.gov.br/index.php/assista/tv/8392-benjamim-costallat
Francisco Pontes de Miranda Ferreira é Jornalista (PUC Rio) e Geógrafo (UFRJ) com mestrado em Sociologia e Antropologia (UFRJ), pós graduação em História da Arte (PUC Rio), pós-graduação em Desenvolvimento Territorial da UERJ Doutorando no Programa de Pós-Graduação em Meio Ambiente da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, membro do conselho editorial do Jornal Poiésis.