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Correspondências



Flávia Joss



“Todas as cartas de amor são

Ridículas.

Não seriam cartas de amor se não fossem

Ridículas.”

Álvaro de Campos


Será que todas as cartas de amor são, de fato, ridículas? Assisti ao filme A última carta de amor, um romance tão gostoso e delicado. A narrativa traz a história de Jennifer Stirling, que após perder a memória em um acidente de carro, ao encontrar antigas cartas endereçadas a ela, descobre que estava vivendo uma grande história de amor fora do casamento o que a faz recuperar a memória aos poucos. A cada carta lida, a personagem principal nos transposta para o universo amoroso em que ela estava inserida, nos permitindo experimentar um pouco daquele momento.


Eu já escrevi cartas. Escrevi e recebi cartas de amores pueris e de amizade. Ainda tenho algumas guardadas. É uma sensação gostosa abrir uma carta antiga, nos encontrarmos com um “eu” que já não existe mais. Lembro-me como era receber uma carta... quando o carteiro chegava e chamava meu nome, meu coração ficava aos pulos. As cartas das amigas tinham um carinho especial, sempre vinham com um desenho, uma figurinha ou eram escritas em papel de carta que colecionávamos, eram lindos e perfumados. Como eu era muito menina, as cartas de amor eram sempre um bilhete, bem simples, com alguns elogios ou coisa do tipo, nada profundamente romântico. Mas recebê-las era sempre motivo de um sorriso no rosto.


Enquanto suspirava com o romance cinematográfico, pensei no mundo que nos cerca hoje. Tudo tão imediato... mensagens de WhatsApp, directs ... Não sabemos mais lidar com a expectativa da espera, grudamos os olhos no celular e aguardamos até que os tracinhos fiquem azuis. E se por acaso nos arrependermos do que está escrito, podemos apagar a mensagem. Quantas histórias de amor estão registradas numa conversa por aplicativo? Sem perfume, sem desenhos de flores e corações... só palavras e emoticons que podem ser deletados a qualquer momento.


Recordo-me da última carta que escrevi, faz uns anos, mas já estávamos na era digital. Disse ao destinatário que fiz do modo tradicional para que ele guardasse e pudesse ler sempre que desejasse sentindo a textura do papel, não a tela. Uma nostalgia se apoderou de mim nesta tarde fria, não escrevi uma carta de amor, mas fiz essa crônica.


28 de julho de 2021.


Flávia Joss (@flaviasjoss_) é escritora, professora de Língua Portuguesa e Literatura, especialista em Gêneros textuais e Interação. Possui cursos de aperfeiçoamento nas áreas de Arte& Espiritualidade, Escrita Criativa

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