- jornalpoiesis
CORPO

Camilo Mota
O corpo do poema fragmenta: exausto rosto, boca e olhos secos. Criou distância de si, fugiu entre vírgulas : silêncio. E se moveu num grito que lhe rasgou a pele: escamas, escaras, pelos caídos no box do banheiro. O poema se esvai no ralo. Entre baratas, esgotos e restos se restitui à origem, ao lodo original das palavras. Restou uma lembrança, um cheiro de sabonete usado, fragrância de ter (s)ido. Um corpoema sórdido, redescoberto, redesenhado, subindo no ar dos valões: uma garça de asas abertas voa reunindo as margens do rio.
Camilo Mota é psicanalista, poeta e escritor, editor do Jornal Poiésis e membro da Academia Araruamense de Letras (www.camilomota.com.br)