Jornal Poiésis
Compreendendo a Ecologia Política

Francisco Pontes de Miranda Ferreira
A partir dos anos 1980, a globalização passou a ditar todas a políticas, apesar de variados resultados eleitorais. O mundo do mercado se tornou absoluto. A ecologia política pode ser um passo para revertermos este quadro. O termo ecologia vem do setor da biologia que estuda a relação da espécie com o meio ambiente em que vive. Aplicada para os seres humanos a ecologia é a relação da humanidade com o meio natural global – como este ambiente permite a sua sobrevivência. Fato que inclui a transformação da natureza e a natureza transformada pela humanidade, mas, diferentes das outras espécies, somos seres políticos. Durante milhares de anos a luta era pela sobrevivência contra a fome e as intempéries, submetendo-se à ordem da natureza. Nos últimos tempos, isso de reverteu e a humanidade se acha dona da natureza e no século XX alcançou o limite. As técnicas e a ciência que eram a esperança de tudo, começaram a falhar. Precisamos compreender os mecanismos econômicos e as políticas responsáveis por tanta degradação. Assim surgiu a economia política, para fazer uma análise crítica da sociedade industrial e da cultura ocidental. O progresso técnico provou não ser capaz de promover a emancipação da humanidade. Pelo contrário, aumentaram os riscos. Os princípios da propriedade e do poder econômico devem ser questionados e não podemos ter um projeto político entregue aos interesses do mercado. O capitalismo fordista começou a entrar em crise no pós-guerra e provou ser um progresso às custas da degradação do planeta. Fato que se agrava hoje com a ascensão do neoliberalismo. Temos que reavaliar as nossas verdadeiras necessidades e pensar globalmente e agir localmente e pensar localmente e agir globalmente (LIPIETZ, 2002).
A ecologia política é um campo ideal para a transdisciplinaridade e a etnografia fortalece muito a ecologia política. A noção de ecologia que se originou no século XIX com Thoreau e Haeckel, relacionada unicamente com o meio natural, nos meados do século XX, se tornou movimento da sociedade civil que é o que nos interessa para a ecologia política. Hoje fortalecido com as condições ambientais e políticas contemporâneas, marcadas pela expansão global capitalista neoliberal e pela crise ambiental. Grupos sociais, através de aspectos culturais e de modos de produção, se utilizam do meio natural de diversas formas contraditórias. Vários destes modos entram em conflito direto com os interesses do modo dominante e conflitos socioambientais são gerados. A dinâmica socioambiental envolve aspectos naturais, culturais, políticos e sociais de uma forma interrelacionada. Na ecologia política temos que mapear as forças biofísicas e as atividades humanas presentes num dado território. Fato que demanda necessariamente uma abordagem transdisciplinar, onde dinâmicas, fluxos e contradições necessitam ser ressaltadas (LITTLE, 2006).
Precisamos nos preocupar em dar o máximo de voz para os marginalizados e para os discursos contra hegemônicos. A análise dos conflitos está intrínseca na visão da ecologia política e ainda mais da etnografia. O foco da etnografia dos conflitos são as múltiplas e complexas interações sociais e naturais que geram os conflitos. Este tipo de pesquisa deve escolher uma delimitação biogeográfica e a bacia hidrográfica, por sua dinâmica natural e social extremamente interrelacionada se torna um limite muito eficiente para a pesqui9sa científica. O importante é uma análise dialética e complexa do sistema natural e social interconectado e complexo e desta forma estarmos colaborando para a melhoria das políticas públicas.
"O conhecimento ganho pela pesquisa em ecologia política pode também servir como subsídio para a formulação e implementação das políticas públicas que levam em conta as reivindicações dos grupos sociais em conflito" (LITTLE, 2006: 99).
Referências
LIPIETZ, A. A Ecologia Política, solução para a crise da instância política? Buenos Aires: Red de Ecolgía Socila, 2002.
LITTLE, P. E. Ecologia Política como Etnografia: um guia teórico e metodológico. UNB: Horizontes Antropológicos, 2006.
Francisco Pontes de Miranda Ferreira é Jornalista (PUC Rio) e Geógrafo (UFRJ) com mestrado em Sociologia e Antropologia (UFRJ), pós graduação em História da Arte (PUC Rio), Doutorando no Programa de Pós-Graduação em Meio Ambiente da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, membro do conselho editorial do Jornal Poiésis. É diretor da Arcalama Serviços de Comunicação (www.arcalama.com.br)