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Como solucionar o problema dos animais de rua



Francisco Pontes de Miranda Ferreira

De acordo com o IBGE (2013) o Brasil possui mais cachorros do que crianças nos domicílios e mais de 17% das residências possuem gatos. Trata-se de um assunto de saúde pública em que a vacinação e a castração se tornam uma prioridade e todos os esforços nesta direção são essenciais. A prevenção é a melhor solução para evitarmos a proliferação de doenças provocadas por animais abandonados. A leishmaniose, por exemplo, é a principal zoonose do Brasil e temos que investir em todas as formas para evitar sua propagação. Outras doenças extremamente graves transmitidas por animais que não recebem o tratamento adequado são: raiva, leptospirose, salmonelose. Não temos como separar saúde pública de saúde animal e a maioria das cidades brasileiras possuem grande quantidade de animais doméstico na rua. Além das doenças, esses animais espalham lixo.

A complexidade que envolve um projeto de saneamento não pode deixar de incluir a problemática dos animais de rua. Os animais abandonados representam um grande problema para a gestão das cidades. Animais abandonados impactam o ambiente e provocam uma série de problemas de saúde pública. A maior causa da existência de tantos animais de rua é o próprio abandono provocado por tragédias familiares como morte, doença, falta de recursos, desemprego, problemas mentais. A falta de esterilização também é um fator importante para a multiplicação de animais de rua. A vacinação e a castração é uma solução importante, mas, por outro lado, prolonga a vida dos animais com mais saúde. Pesquisas comprovam que a esterilização de fêmeas realmente reduz a quantidade de animais de rua. O maior desafio para estas soluções é conseguir recursos e as organizações da sociedade civil têm realizado muito mais do que o poder público.

A educação e a informação são estratégias extremamente importantes e a melhor forma de se conseguir realizar vacinação, esterilização e adoção. Uma tática extremamente eficiente é a criação de um fórum local que deve realizar um plano quinquenal para a cidade, que deve incluir as seguintes etapas: - Diagnostico quantitativo e qualitativo; - Promover legislação e normas relacionadas; - Definir a estratégia de vacinar e castrar 90% dos animais identificados; - Desenvolver um plano de prevenção e tratamento para os animais abandonados; - Captar recursos para as organizações da sociedade civil que atuam no setor; - Implantar programas de educação e planos de comunicação; - Criar um sistema de acompanhamento e monitoramento das atividades.

O passo que envolve a legislação é extremamente importante e deve ser direcionado para leis de proteção animal e ser acompanhado de um sistema de monitoramento e fiscalização e o poder público deve apoiar as iniciativas das organizações não governamentais, principalmente na área de comunicação. O plano quinquenal vai mostrar resultados surpreendentes a partir do terceiro ano e deve conter um cronograma e orçamento. A formação de uma rede é extremamente importante para o sucesso do plano. O registro dos animais domésticos pode se tornar uma política importante para que tenhamos melhor controle de como vivem, onde vivem e os possíveis riscos. Fica mais fácil também identificar o lar do animal para verificação de vacinação e castração. Isso acontece na Alemanha, país que investe principalmente na comunicação e programas de adoção com ênfase nos animais idosos e com algum problema que foram abandonados. O investimento na Alemanha é muito mais direcionado para a informação do que para o problema do animal em situação de rua. Ou seja, educação e comunicação são prioridade absoluta e todo município deve ter uma política para esse problema (LYU, 2015).

Entrevistamos uma médica veterinária com mestrado na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) e que trabalha com reprodução animal e doenças relacionadas. A médica veterinária defende a necessidade de maior participação do poder público. Acha importante também a criação de um fórum que envolva as secretarias de saúde e meio ambiente, protetores, igrejas e a sociedade como um todo.

“O controle é necessário por uma questão do próprio ser humano, as doenças são portadas por animais de rua e acabam atingindo as pessoas, é uma questão de epidemiologia”. Ela explicou que o maior problema de saúde que atinge os animais de rua é a miíase – conhecida como bicheira, provocada pela mosca varejeira que deixa os ovos em feridas causadas na maioria das vezes por brigas ou até pedradas. Segundo ela, esse problema supera o de atropelamentos.

Nos desastres naturais os animais são muito vulneráveis. No entanto, muito pouco é feito a respeito deste assunto. A própria quantidade de animais atingidos não é devidamente contabilizada. Em dois grandes desastres brasileiros como o de 2011 na Região Serrana do Rio de Janeiro e o de Brumadinho em Minas Gerais em 2019 as cenas de animais sendo resgatados ou agonizando foram marcantes na mídia. Alguns até abatidos a tiros em estado grave e sem possibilidade de resgate. Os protetores de animais estão muito preocupados com a mitigação dos danos à saúde física e mental dos animais em casos de desastres. O Brasil não possui uma política nacional que inclua os animais em estratégias de redução de riscos em desastres. A Nova Zelândia e a Costa Rica são referência neste aspecto e possuem planos de prevenção e redução de riscos em desastres que incluem os animais. Temos que incentivar o debate entre sociedade civil e poder público para esta inclusão. Os animais domésticos e o gado são as grandes vítimas em casos de desastres em áreas ocupadas por atividades urbanas e rurais.

No caso dos incêndios florestais os animais silvestres são as principais vítimas e muitos acabam escapando para outras áreas provocando desiquilíbrios na biodiversidade e apresentando risco para as comunidades. Ressaltamos que a vacinação em dia é um aspecto extremamente importante no caso de desastres. Doenças como leptospirose e leishmaniose aumentam muito no caso dos desastres. A castração também é um fator importante pelo fato de diminuir a quantidade de animais abandonados que podem a ser vítimas dos desastres ambientais. A Conferência de Sendai no Japão em 2015 foi uma marca internacional para a redução de riscos em desastres. O grande destaque da conferência foi a priorização de medidas de prevenção e de aumento da resiliência. Não podíamos deixar de incluir a questão dos animais de rua e de criação na problemática do saneamento, demonstrando, mais uma vez, a complexidade que envolve o assunto e o seu enfrentamento. Referência


LYU.P. Proposal on solutions to stray dog problem in American cities in: journal of political sciences and public affairs. Illinois Institute of Technology. 2015 *Francisco Pontes de Miranda Ferreira é Jornalista (PUC Rio) e Geógrafo (UFRJ) com mestrado em Sociologia e Antropologia (UFRJ), pós graduação em História da Arte (PUC Rio), Doutorando no Programa de Pós-Graduação em Meio Ambiente da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, membro do conselho editorial do Jornal Poiésis. É diretor da Arcalama Serviços de Comunicação.

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