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Cidades Biofólicas. Você sabe o que são?
Atualizado: 1 de nov. de 2021

Francisco Pontes de Miranda Ferreira
O conceito de cidades biofólicas se refere ao sistema em que áreas de biodiversidade nativa são protegidas no interior ou no entorno imediato das cidades. No caso de Phoenix nos Estados Unidos, uma área de deserto de 17 mil hectares foi preservada para impedir a expansão urbana, em Vitória-Gasteiz, no país Basco o pantanal do entorno forma um cinturão verde. O objetivo é, além da preservação, promover a educação ambiental e a restauração dos habitats das cidades onde há uma carência de contato direto com a natureza. A iniciativa envolve voluntários na recuperação, caminhadas ecológicas e acampamentos. Além de promover acesso da população ao verde, as cidades biofólicas têm menos problemas com drenagem urbana.
O projeto biofólico inclui também as edificações e a preocupação com a interação de aspectos naturais como luz, vegetação e ventilação. Os tetos e as paredes verdes fazem parte da proposta. O conceito de cidades biofólicas inclui a facilitação do acesso e o incentivo à visitação de áreas verdes e parques dentro e no entorno das áreas urbanas. Os jardins sensoriais também fazem parte dos projetos. O termo biofilia foi criado por Timothy Beatley do Departamento de Arquitetura da Universidade de Virginia.
Tetos Verdes
Os tetos verdes fazem parte das estratégias de planejamento urbano das cidades biofólicas e da gestão dos recursos hídricos, diretamente relacionados com saneamento, principalmente drenagem, mas parecem ignorados ainda em na maior parte das cidades brasileiras. O escoamento superficial é um dos elementos mais preocupantes nas discussões e os tetos verdes podem exercer um importante papel na redução deste problema. As coberturas verdes intensivas permitem camadas de solo superiores a 20 cm e a utilização de arbustos de médio porte como algumas plantas frutíferas. As coberturas extensivas com camadas de solo menores são perfeitas para as hortas urbanas. Tetos verdes estão diretamente relacionados com a drenagem urbana e se apresentam como uma solução eficiente que deveria está incluída nas políticas públicas relacionadas com o saneamento.
Há registros de jardins suspensos na antiguidade como o famoso da Babilônia. As casas da Normandia, do sul da Inglaterra e da Escandinávia utilizam tetos verdes há séculos. Os tetos verdes fazem parte hoje da paisagem urbana e se caracterizam pela cobertura vegetal de edificações residenciais, comerciais, institucionais e industriais. Proporcionam várias vantagens estéticas. Além disso, proporcionam conforto ambiental e diminuem os efeitos das mudanças climáticas. Trata-se de uma busca nas áreas urbanas de uma aproximação maior com a paisagem natural. As chamadas “ilhas de calor” urbanas também são reduzidas com essa técnica.
Estudos do Laboratório de Climatologia Geográfica da Universidade Federal do Rio de Janeiro identificaram diferenças de até 5°C em Copacabana no Rio de Janeiro entre as áreas do bairro mais próximas da floresta e as de intenso movimento de veículos e mais afastadas do verde. Os tetos verdes também oferecem economia energética. Países como Alemanha e Áustria e cidades como Buenos Aires incentivam o uso dos tetos verdes com redução de taxas e impostos. Os tetos verdes também promovem a socialização. Em Nova York as pessoas se encontram nos jardins suspensos para reuniões de trabalho, descanso e realização de refeições.
Zonas de raízes utilizando esgoto doméstico através de biossistemas integrados podem proporcionar nutrientes para as plantas dos tetos verdes. Os tetos verdes exigem cuidados especiais, mas que são técnicas simples de construção como o suporte estrutural adequado, as camadas impermeabilizantes, de drenagem e de filtração e o isolante térmico. Algumas edificações no Japão estão utilizando os jardins suspensos na forma de terraços semelhantes às plantações dos Incas no Peru. No inverno os tetos verdes reduzem o uso de aquecedores e no verão o uso do ar condicionado. A vida útil das próprias construções também aumenta. Micro ecossistemas são criados como habitat para plantas e animais, principalmente atraindo pássaros e insetos. Em Paris e Nova York hortas com hortaliças, temperos e plantas medicinais estão sendo desenvolvidas nos tetos verdes. Em Paris até a apicultura está sendo realizada nos tetos das edificações, aproveitando a aproximação das plantas suspensas. É a agroecologia das cidades, proporcionado para o saneamento soluções eficientes para drenagem, redução de resíduos e reaproveitamento da água.
Entenda mais sobre o assunto no site: https://www.archdaily.com.br/br/01-99393/o-que-e-uma-cidade-biofilica.
Francisco Pontes de Miranda Ferreira é Jornalista (PUC Rio) e Geógrafo (UFRJ) com mestrado em Sociologia e Antropologia (UFRJ), pós graduação em História da Arte (PUC Rio), pós-graduação em Desenvolvimento Territorial da UERJ Doutorando no Programa de Pós-Graduação em Meio Ambiente da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, membro do conselho editorial do Jornal Poiésis..