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Capital em movimento decadente: compreendendo a insanidade capitalista

Atualizado: 13 de set. de 2020


Francisco Pontes de Miranda Ferreira


Capital é um valor em movimento e se apresenta de forma imaterial. Valor não pode ser medido ou tocado. O dinheiro pode expressar valor, mas esconde as relações sociais envolvidas. O capitalista se apropria de uma certa quantidade de dinheiro para ser utilizado como capital.


Capital é quando o dinheiro é utilizado pelo capitalista para adquirir dois tipos de mercadorias: força de trabalho e meios de produção. Fato que supõe que assalariados estão disponíveis para serem adquiridos. Assume também o fato de que os trabalhadores não possuem meios de produção e precisam vender sua força de trabalho para sobreviver. O capitalista não compra o trabalhador, como ocorreu na escravidão, e sim a força de trabalho por um determinado tempo. Os meios de produção existem como mercadorias de diversas formas: desde os recursos naturais disponíveis sem qualquer custo até enormes infraestruturas, manufaturados e equipamentos de alta tecnologia. A compra de força de trabalho e de meios de produção envolve um sistema monetário e um mercado de trabalho em movimento. Para tanto, é necessário que haja uma circulação de dinheiro, mercadorias e salários.


Na medida em que a força de trabalho e os meios de produção se juntam e se completam, sob o controle do capitalista, são colocados em ação visando a produção de mercadorias com o objetivo de serem comercializadas no mercado. Desta forma, valor é produzido pela força de trabalho e transformado em uma nova mercadoria. O trabalho necessário para a produção de mercadorias exige o uso de alguma tecnologia que vai determinar a quantidade de força de trabalho, matéria prima, energia e equipamentos necessários que, por sua vez, são adquiridos no mercado. As mudanças tecnológicas vão exigir novas formas no processo de produção, em que tecnologias mais sofisticadas vão permitir o uso de menos força de trabalho e garantir maior produtividade. Tecnologia não está unicamente relacionada com equipamentos, mas também com formas organizacionais na produção. Fato que exige um constante investimento em inovações. O valor do trabalho está relacionado ao custo das mercadorias. Existe um tempo de trabalho em que o trabalhador cobre o valor da mercadoria. Só que o trabalhador continua trabalhando além deste valor e estas horas extras são expressadas como mais valia e é de onde o capitalista tira o seu lucro. A mercadoria produzida, portanto, esconde relações de trabalho imateriais e invisíveis. O capitalista está interessado no seu lucro e assim forma-se a classe capitalista e a trabalhadora. Toda vez em que o capital passa pelo processo de produção, gera excedentes na forma de valor. Por esse motivo, há necessidade de crescimento econômico – capital em movimento. Todo o esforço do capitalista consiste em obter mais dinheiro no final do dia do que foi investido no início. Mercadorias são introduzidas no mercado para serem comercializadas e numa transação bem sucedida o valor retorna na forma de mais dinheiro. Para isso é necessária uma demanda por uma certa mercadoria, assim como o poder aquisitivo para a compra da mercadoria por pelo menos uma parte da população. Por esse motivo, o capitalista investe tanto na criação de desejos. No entanto, nem sempre a transformação de uma mercadoria em dinheiro ocorre de forma tranquila e crises e ruídos diversos podem acontecem no caminho. Algumas mercadorias permanecem em circulação durante muito tempo enquanto que outras são consumidas imediatamente.


Através da luta de classes os trabalhadores conquistam melhorias e o capitalista tenta diminuir custos e aumentar lucros. O resultado tem sido o consumo de mercadorias baratas manufaturadas com mão-de-obra também barata. Uma porcentagem dos valores é apropriada pelos Estados na forma de impostos e taxas. Alguns Estados investem em armamento, benefícios sociais, infraestrutura e outros são altamente corruptos. A maioria possui enormes dívidas, mas todos favorecem, cada vez mais, o setor privado. Nos períodos de grandes crises, como a grande depressão de 1929, o Estado é chamado para intervir e em outros, como o momento neoliberal atual, a demanda é por um Estado não-intervencionista.


Parte do valor e dos excedentes que permanecem após os custos do trabalho serem contemplados e a quantia do Estado ser apropriada, é distribuída entre vários setores. Alguns indivíduos recebem fortunas e outra grande parte é absorvida na forma de propriedades, registros e patentes. Os bancos assumem um papel importante na conversão de dinheiro em mais capital. Cada um que participa do processo tira o seu ganho e trata-se de uma competição acirrada e uma disputa por poder. Todos os que participam desse processo transformam excedentes em dinheiro. O setor financeiro cria seus lucros através de empréstimos e juros. Alguns, portanto, se dedicam a produção e outros apenas à circulação e à especulação. As crises acontecem quando circulação não acompanha produção e vice versa.


A única lógica que move esse processo é a necessidade que alguns indivíduos possuem de se enriquecerem. A quantidade de dinheiro é uma medida de riqueza e há uma necessidade constante de expansão e crescimento. Uma espiral que se encontra completamente fora de controle e que provoca a miséria de milhões de pessoas. Trata-se de um sistema completamente insano e social e ambientalmente insustentável. Há uma ilusão de que dinheiro poderá sempre ser transformado em mais dinheiro. Alguns até investem nesta lógica, sem produzir qualquer objeto ou serviço realmente útil para a humanidade. Vivem apenas da circulação e da especulação. Não há qualquer teoria, receita ou método que garanta o funcionamento do capitalismo sem a geração de crises e conflitos. A luta de classes só fica cada vez mais acirrada e a lógica burguesa tem seus dias contados.


Francisco Pontes de Miranda Ferreira é Jornalista (PUC Rio) e Geógrafo (UFRJ) com mestrado em Sociologia e Antropologia (UFRJ), pós graduação em História da Arte (PUC Rio), Doutorando no Programa de Pós-Graduação em Meio Ambiente da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, membro do conselho editorial do Jornal Poiésis. É diretor da Arcalama Serviços de Comunicação (www.arcalama.com.br)

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