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  • Foto do escritorJornal Poiésis

Cadê minha coluna ? - Crônica



Matheus Fernando*


Essa é a pergunta que não quer calar e que tem ecoado dentro de mim nos últimos dias. Fui lavar o banheiro, uma tarefa semanal, rotineira. Mas não desta vez! Eu simplesmente fui abaixar para pegar a esponja e cadê minha coluna para me dar o suporte necessário para retornar a minha altura de um metro e noventa e dois centímetros ?


Ficou lá e está lá até agora. Não sabia que era possível sentir tanta dor em tão pouco tempo. Você já chorou de dor ? Eu já. Essa semana inclusive. Justamente esse ano que eu me propus a malhar e fazer mais exercícios físicos. Não tenho mais coluna, como viver sem essa parte tão importante do corpo ?


Fui correndo para o Instagram atrás de um fisioterapeuta vulgo quiropraxista. Eu particularmente sempre tive preconceito com essa área da fisioterapia. Como assim o profissional me revira e faz uns sonoros “track, track, track” e que não doem e que acabam colocando tudo no lugar ? Para mim isso tem cara de fuleragem!


Mas o que fazer se no momento é você quem está precisando ? Achei o Dr. Samir no Instagram. Mandei um direct, e logo em seguida um Whatsapp correndo - ainda chorando de dor - por acaso, por conta da pandemia, ele está fazendo atendimentos apenas domiciliarmente e no dia em questão, só tinha o horário das 10:00 horas da manhã vago. Eu liguei para ele às 9:00 horas. Às 10:00 ele chegou e quando fui recebê-lo ao ver a minha situação ele ressaltou “Nossa jovem! Você não está nada bem.” A minha vontade foi devolver “Você acha ?”


Tirei fotos e mandei para o Whatsapp dele antes de chegar. Não conseguia manter meu tronco reto, ereto. Toda a minha estrutura parecia que estava inclinada para a esquerda, não conseguia pisar o pé direito no chão, meu quadril direito estava doendo muito, não estava podendo me abaixar nem envergar a coluna. Para levantar de um sofá, por exemplo, era preciso um esforço descomunal e mesmo assim, regado a muita dor.


Ele chegou, abriu aquela maca estranha em forma de mala e começamos a conversar. Eu, logicamente, enchi ele de perguntas até porque eu não sou trouxa. Não muito. Para todo processo que ele fazia, passava um tempo me explicando algumas coisas antes, fazia alguns testes e devolvia algumas perguntas em forma de checagem. Seus cabelos brancos me passaram segurança. Esse é um daqueles momentos em que eu confirmo que Deus existe.

Eu não confiaria em um jovem de 20 à 29 anos, recém formado, para fazer aqueles “track, track”, me dobrando naquela maca esquisita sem o mínimo de experiência. Sim, eu sei que é puro conceito prévio. Mas cada um tem os seus. Esse é um dos meus. Se o profissional não me passa segurança na prática eu costumo não confiar, nunca mais volto nele.


Na checagem a primeira coisa que ele notou foram 2 centímetros de perna direita a mais que a esquerda e alguns problemas posturais que me acompanhavam desde a adolescência. A primeira coisa que ele afirmou foi que eu andava a muito tempo de bicicleta, e eu afirmei que “Sim! Desde que saí da sala de parto, já saí de bicicleta.”


Ele conferiu e viu um erro postural no meu quadril esquerdo, estava para dentro. Logo, não é que eu tinha 2 centímetros de perna direita a mais que a esquerda. Na real, a minha perna esquerda estava encurtada por conta de um erro postural no meu quadril. E quando ele falou isso eu fiquei mais tranquilo, claro. “Ah sim, eu quase morri porque minha região pélvica estava toda desconjuntada, tá certo dotor. E agora, eu morro já ?”


Depois de muitos testes, e dobra a perna para cá, e dobra para lá, e coluna que enverga na maca esquisita e etc. Ele começou. Não pela parte mais doída (a cintura e o quadril fora do lugar) mas pela coluna. “Respira fundo … agora solta … Track!” Soou o primeiro barulho esquisito. Não doeu nada, mas eu fiquei com muito medo. “Vamos lá, respira fundo … agora solta … Track!” Soou o segundo barulho esquisito.


Foram dois “track” na coluna, dois “track” na altura do pescoço, e enfim, dois “track” na região do quadril. No quadril ele teve que fazer o “track” com as duas mãos e com o joelho. Esse doeu um pouco, mas voltou para o lugar. Eu achei isso tudo pura magia negra. Pacto com o Demo, essas coisas.

Segundo ele, eu continuaria sentindo um pouco de dor, mas agora por estar pisando certo. Dessa vez agora eu já consigo pisar com os dois pés, direitinho. E disse a ele que eu posso parar de tomar os remédios. Eu estava tomando dois Ibuprofenos e um Dorflex por dia.. Uma dor sem mãe por dias até eu chegar a conclusão que deveria pedir socorro. Santo Dr. Samir da magia negra em Rio das Ostras … continua …




*Matheus Fernando é aluno de graduação em Psicologia na Universidade Federal Fluminense. É escritor que transita entre gêneros literários como poesia, crônica, conto, peça, ensaio e artigo.

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