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  • jornalpoiesis

Cético ano novo

Atualizado: 30 de jan. de 2022





Matheus Fernando


Mais um ano que termina, mais um ano que se inicia. Acho que eu realmente estou ficando velho... Rabugento para ser mais preciso. Rabugento é a expressão correta. Já faz uns anos que eu tô meio blasé com esse papo de ano novo.


Para ser bem sincero, datas como natal e ano novo, os outros feriados... parece que perdi o restinho do encanto que tais datas geralmente suscitam no povo. Como hoje moro longe da minha família, a única coisa que me tira um sorrisinho de canto por essas datas é que vou revê-los e certamente, que comerei coisas diferentes e que geralmente não como na lida diária. E que comerei em grande quantidade, de preferência.

Esse tal de “Feliz ano novo!”... Não é possível que seja só eu que pense que a única coisa que muda é uma data no calendário. Nada muda. Se o indivíduo, a pessoa não mudar? Não move uma palha? A única coisa que muda são os quilos a mais depois da virada – eu avisei que estou mais rabugento nos últimos tempos, então paciência.

Talvez seja porque não tenho conseguido respirar direito nos últimos meses. Um tanto de coisas de trabalho para entregar. O TCC da faculdade também apertando o calo... não estou conseguindo viver nada de bom que essas datas oferecem; descansar, assistir um filme, colocar um pouco as pernas para cima. Talvez seja por isso que estou querendo esgarçar essa expressão toda vez que ouço ela novamente; “Feliz Ano Novo!”

Ultimamente eu tenho me sentido aquele primo mais velho, sem coração que fala na cara do primo mais novo de 6 anos que Papai Noel não existe no Natal e o remelento sai chorando, sabe? E o pior, não tenho sentido culpa por isso. É claro que eu não faço isso, não fiz isso com ninguém. Todavia, vontade é uma coisa que não me falta.

Em tempos que estou assim, meio desgostoso das convenções sociais, meio Caatinga, meio Kafka eu sempre lembro de livros que quero muito ler, que nunca li mas sei quase o conteúdo todo de tanto ouvir falar sobre. O livro É Isto Um Homem do Primo Levi é um. Esse livro escrito por Levi é sobre a sua experiência no campo de extermínio como judeu que ele foi em Auschwitz. O Livro Negro do Comunismo é outro livro desses. Esse relata alguns genocídios e atrocidades que já fizemos enquanto humanidade.

Entre outros livros nessa mesma pegada. Eu sei bem que livros como esses de alguma forma no momento abraçariam calorosamente meu ceticismo como eu abraço meus pais depois de muitos meses sem vê-los. E por quê? Não sei explicar. Mas sei que seria assim. Tem coisa que a gente não explica, apenas sente. Talvez nesse início de 2022 eu leia algum livro desses.


Pelo menos a Amazon cumpre suas promessas e entrega os livros que a gente compra antes do prazo prometido. Há esperança. Eu juro que queria escrever algo melhor para esse início de ano para nós todos. Mas isso foi o melhor que consegui fazer. E não vou te desejar feliz ano novo.

Matheus Fernando é aluno de graduação em Psicologia na Universidade Federal Fluminense. É escritor que transita entre gêneros literários como poesia, crônica, conto, peça, ensaio e artigo.

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