Jornal Poiésis
AS MÃOS

Alcides Buss*
No escuro mais escuro perguntam as mãos sob as quais se curvam as minhas, reféns do instante – este que acaba de começar –, qual o próximo passo? Curvadas, aninham-se as minhas no quase nada das palavras. Em meio a elas, divertem-se em não saber que o amor não salva. As mãos – essas, quais luvas –, inquietam-se em buscar a resposta que, deveras, não há. No escuro mais escuro, o escuro se estende além do que alcançam. Precisam romper a barreira das trevas que as cercam. Talvez precisem de minhas mãos, estas, feitas de ilusão.
Alcides Buss mora em Florianópolis-SC (www.alcidesbuss.com), é professor de Teoria Literária na Universidade Federal de Santa Catarina desde 1980.